São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Desvios éticos; Motivação política; Cidadania e delações; Profissões do futuro

Desvios éticos
"O artigo de Gilberto Geraldo Garbi (Folha, 11/01) merece atenção especial e muita reflexão. Ele questiona a base ética do jornalismo. Ele critica jornais e jornalistas pela forma como espalham acusações e fazem julgamentos definitivos sem qualquer preocupação em apurar fatos, questionar dúvidas, ouvir e registrar o outro lado. Ele denuncia a imprensa pelo mau uso que está fazendo da 'procuração tácita' que recebe da opinião pública para representá-la. Repetem-se os casos em que as conclusões preestabelecidas (as 'jump conclusions' a que os americanos se referem) nascem como por encanto e dispensam rotinas básicas de apuração. E, pior ainda, quando as verificações posteriores demolem as conclusões prévias, o jornal ou o jornalista desenvolvem estranha síndrome que se reflete em retificações oblíquas ou desmentidos incompletos quase sempre escondidos em cantos de página. A Folha tem manifestado sua preocupação com esses desvios éticos e com os danos que as 'jump conclusions' provocam na imagem de pessoas, empresas e instituições. O debate está aberto. Os que sabem o papel que a imprensa deve e precisa desempenhar no aprimoramento do processo democrático, na valorização da vida social, na promoção e defesa dos valores éticos da cidadania, confiam que os questionamentos de agora nos levem a defender a liberdade no exercício do jornalismo com a mesma ênfase com que todos precisamos combater e repudiar a libertinagem e a irresponsabilidade com que por vezes se desvirtua a profissão dos jornalistas e a atividade econômica da mídia."
Mauro Salles (São Paulo, SP)

Motivação política
"Preocupa ouvir, ver e ler precipitada entrevista, pelo menos, do delegado Nelson Guimarães à imprensa, não descartando 'motivação política' no homicídio do presidente do Sindicato dos Condutores Rodoviários do ABCD, porque, até hoje, a polícia paulista não esclareceu o fato dos sequestradores de Abilio Diniz, ao serem presos, vestirem camisetas do PT, isto no dia que antecedeu as eleições à Presidência, quando Lula era franco favorito, quando é certo que aquela zelosa autoridade compôs a equipe que logrou descobrir o local onde se encontrava cativo o empresário e apurou a autoria daquele crime. Preocupa o fato do sr. Medeiros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, divulgar, a todo vapor, que a morte do sindicalista foi 'queima de arquivos', quando é certo que um seu assessor encontra-se condenado a 14 anos de reclusão pela Justiça de São Paulo, por haver assassinado covardemente um operário da firma Sabros, jovem, e pai de duas crianças, que apenas pretendeu trabalhar em dia de greve. Preocupa porque o sr. Medeiros é candidato a senador em legenda oposta ao PT e, portanto, à CUT. Preocupa porque, sendo certa a autoria do crime na pessoa do sindicalista, não há explicação jurídica e administrativa que justifique a presença do dr. Nelson Guimarães."
Mário Simas, advogado (São Paulo, SP)

Cidadania e delações
"Parabenizo a professora Maria Sylvia Carvalho Franco pelo artigo 'Faits divers, cidadania, delações' (Folha, 11/01). Alerta a autora para os riscos inerentes a uma sociedade orientada por valores decorrentes da delação. Um Brasil passado a limpo, sim; mas o nosso veemente não a um Brasil que compactue com a violação cotidiana dos direitos individuais."
Selmo José Queiroz Norte (Brasília, DF)

Profissões do futuro
"Gostaríamos de parabenizar pela página 'Profissões do futuro' no caderno Empregos da edição de 9/01. Foi muito feliz a afirmação de que 'Serviços é o setor do ano 2000'. Também foi muito oportuna a colocação de Jorge Fornari Gomes, da American Express, de que 'a qualidade de serviços continuará a ser fator preponderante para o sucesso profissional nessa área, alavancada pela elevação das expectativas dos clientes'."
Marcos Antonio Lima de Oliveira, vice-coordenador do Núcleo de Qualidade e Produtividade da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Salvador, BA)

Ministério Público da Bahia
"O debate encetado pelo jornalista Fernando Conceição ('Mistificação no Pelourinho', Folha, 7/01) se, por um lado, acertadamente levanta sérias questões não observadas pela escritora Zélia Gattai ('Reflexão no Pelourinho', 2/01), por outro, comete ao final do artigo o mesmo pecado da desinformação. Invocamos o testemunho de todo o Ministério Público do Brasil, presente ao 9.º Congresso Nacional, realizado na Bahia, em setembro de 92, quando, na presença do governador ACM, tivemos oportunidade de, em discurso de abertura, defendermos o impeachment de Collor, reafirmando o compromisso do Ministério Público da Bahia com a independência e a liberdade. Portanto não foi feliz o jornalista Fernando Conceição ao registrar que a 'OAB e o procurador da Justiça Federal têm abertamente declarado o comprometimento do Ministério Público da Bahia com o governador'. O Ministério Público da Bahia não tem vocação de ficar no pelourinho, para 'senhor' nenhum."
Achiles de Jesus Siquara Filho, presidente da Associação do Ministério Público do Estado da Bahia (Salvador, BA)

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