São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Qualidade está melhorando

RAQUEL RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em 1875, a Itália vivia as mudanças decorridas da unificação nacional. Com a crise, caíam os preços agrícolas. Do Piemonte, Trento, Vêneto, Toscana e Lombardia começavam a partir famílias de camponeses. No porto de Gênova, entregavam-se aos agentes de imigração.
Ao chegar em Porto Alegre, os imigrantes seguiam pelo rio Montenegro ou São Sebastião do Caí. A pé ou em carretas, continuavam a viagem por caminhos quase intransitáveis em direção aos lotes de terra que lhes seriam destinados. As colônias eram divididas em léguas, estas em linhas. As linhas, em lotes. Ao redor das linhas, apenas mata.
No início do século passado, os imigrantes alemães haviam alcançado as nascentes do Cai-Santa Cruz e seus afluentes, venceram os contrafortes da serra em Nova Petrópolis, povoaram vales e derrubaram florestas para cultivar. Mas pararam diante de um território áspero. Seriam esses lotes, nas encostas do nordeste da Serra Gaúcha, entregues aos italianos.
Aos poucos, chegavam os Zamboni, os Tomasi, os Fitarelli, com suas tradições e, é claro, com cepas de videiras. Não seriam os primeiros, porém, a plantar aqui esse arbusto. Antes, portugueses e açorianos, franceses e alemães transferiram mudas de Vitis vinifera para o Rio Grande do Sul. A experiência deu certo até a entrada, em 1837, das castas americanas e suas moléstias. As européias desapareceriam da Serra Gaúcha.
"Terra sem padre, sem pão e sem vinho", teriam dito os italianos ao não conseguir cultivar suas vinhas nobres. Por décadas, conformaram-se em beber os rústicos vinhos produzidos com as resistentes castas americanas, em especial a variedade Isabel.
A criação de laboratórios de pesquisas enológicas e o acesso a tecnologia mais aprimorada mudariam o quadro da quase monocultura da Isabel. Uma das formas de aclimatação de videiras mais bem sucedida foi a utilização de porta-enxertos de castas americanas para tornar as européias mais resistentes. Em consequência, a partir de 1970, produzem-se vinhos cada vez melhores.
Decorridas quatro gerações, a terra árida concede os frutos que sonharam os imigrantes: segundo a Embrapa, 20% das castas plantadas na Serra Gaúcha são viníferas. Os cachos cilíndricos do "gamay beaujolai" ou os pequenos e cônicos cachos do "pinot noir" disputam espaço nos parreirais. Mas são das grandes cantinas que saem os vinhos finos do Sul.
Cepas importadas das principais zonas vitícolas da Europa, Califórnia e Africa do Sul foram adaptadas; castas nobres, implantadas. Da seleção de frutas ao uso de barril de carvalho para os vinhos tintos e tanques de aço inox para os rosês e brancos, as vinícolas gaúchas garantem a qualidade de seus vinhos nobres. (RR)

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