São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Laboratórios nacionais aceitam cortar preços

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os laboratórios nacionais aceitam reduzir suas margens de lucro para, junto com um esforço do atacado e varejo, baixar preços de alguns remédios entre 20% e 25% no mínimo. A afirmação foi feita ontem pelo presidente da Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais), Dante Alario. "Vamos perder margem de lucro mas ganhar volume de venda, além de contribuir para solucionar um grave problema social no Brasil", disse.
A proposta de reduzir preços de cerca de 300 produtos de primeira necessidade que constam da Relação Nacional de Medicamentos (Rename) foi feita anteontem em Brasília pelo ministro da Saúde, Henrique Santillo. A criação dessa "farmácia popular", como chamou o ministro, seria a concessão que a indústria teria de fazer em troca de uma alteração no decreto 793, dos genéricos.
O decreto prevê que, nas embalagens dos medicamentos, o tamanho das letras da marca tenham que corresponder a um terço do tamanho dos letras do nome genérico (substância ativa). O ministro propôs à indústria mudar o decreto de forma que o nome genérico venha em cima e possa ser igual ao tamanho da marca.
"A mudança que o ministro propôs não é ideal, mas dá para engolir", disse Dante Alario. Ele afirmou que preferia que os medicamentos genéricos convivessem com os de marca sem alterações de embalagem. Mas disse compreender a situação de Santillo que "pegou um abacaxi, que é esse decreto, nas mãos e agora tem de resolver o problema com a indústria". O decreto foi elaborado pelo ex-ministro Jamil Haddad. "Santillo deixou o 793 mais palatável, menos radical."
Já a Abifarma, associação que representa principalmente os laboratórios multinacionais, não pensa da mesma forma. "A proposta de Santillo é boa como início de negociação. Ela abre o diálogo", disse o presidente da Abifarma, José Eduardo Bandeira de Mello.
Segundo ele, é possível a discussão de uma redução de preços para os medicamentos de primeira necessidade desde que o governo melhore ainda mais o decreto dos genéricos. "A marca é um patrimônio das empresas e não se pode acabar com ela dessa forma. O nome genérico é sempre muito maior e se vier em cima, a marca vai desaparerer", afirmou.
Bandeira de Mello disse que os laboratórios multinacionais têm de enfrentar um complicador a mais para mudar suas embalgens. "As marcas muitas vezes são propriedade de uma empresa estrangeira e não há como reduzir seu tamanho e importância sem antes consultar essa empresa". O presidente da Abifarma disse que vai fazer reuniões com seus associados para preparar a próxima reunião com o ministro Santillo, dia 20.
Dante Alario, da Alanac, disse que o ministro da Saúde já avisou: caso a Abifarma não concorde em criar a tal "farmácia popular" o acordo poderá ser feito somente com os laboratórios nacionais. "E nós estamos dispostos a isso", disse Alario.

Texto Anterior: Abifarma admite 'recuperação'
Próximo Texto: Serra propõe modernização do sistema tributário
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.