São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 1994
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Traficantes enfrentam chefe da PM

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Traficantes armados com metralhadoras impediram ontem de manhã o homem de confiança do governador Leonel Brizola (PDT (Polícia Militar), tenente-coronel Heleno Barbosa, 43, de entrar no morro Jorge Turco (em Rocha Miranda, zona norte). Ele tinha ido à favela convidar parentes das vítimas da chacina ocorrida na semana passada para um encontro com Brizola.
Barbosa chegou à favela às 10h, em um Versailles sem o emblema da PM. Ele vestia terno e estava acompanhado de um motorista. Quando o carro estacionou no largo da Jaqueira, de onde partem vielas para o alto do morro, Barbosa foi abordado por homens armados, que ordenaram sua saída imediata.
Indignado, Barbosa seguiu para a 40.ª DP (Delegacia de Polícia), em Honório Gurgel (zona norte), e pediu, por telefone, auxílio ao Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM. As 12h, cerca de 50 militares do Bope invadiram a favela.
Apesar de vasculhar barracos e revistar dezenas de suspeitos, a PM não conseguiu prender ninguém. As 14h, os homens do Bope deixaram o favela. Na saída, em cima da caixa d'água no alto do Jorge Turco, um favelado levantou um fuzil, como se estivesse comemorando o fracasso policial. O Bope decidiu, então, voltar ao morro por uma outra entrada. A favela foi novamente invadida. Como a primeira, esta incursão policial não obteve resultados positivos.
O morro Jorge Turco é apontado pela polícia como possível esconderijo do traficante Jorge Luiz, adversário de Parazão no controle dos pontos de venda de drogas na favela de Acari (zona norte). Os rivais brigam há três meses. No sábado, cerca de 40 homens liderados por Parazão teriam matado cinco pessoas em Acari e sete no Jorge Turco.
Barbosa acumula a presidência da Fundação Leão 13 e a subchefia do gabinete militar do governo estadual. Desde o massacre de Vigário Geral, em agosto, ele tem atuado como uma espécie de elo entre parentes dos mortos e Brizola.
Ao ser abordado pelos homens armados, Barbosa não revelou sua condição de oficial da PM. A omissão pode ter lhe salvado a vida. É norma nos morros do Rio o "justiçamento" de policiais militares que entram em favelas à paisana.

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