São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Ucrânia assina fim de seu arsenal atômico

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MOSCOU

Estados Unidos, Rússia e Ucrânia assinaram ontem um acordo para que o arsenal atômico ucraniano seja desmontado em solo russo. O Kremlin e a Casa Branca também ratificaram a decisão de redirecionar seus mísseis nucleares, antes apontados contra o ex-adversário da Guerra Fria. A "era da desnuclearização" avançou mais alguns passos com a cúpula em Moscou.
Em outro sinal dos novos tempos, diferentes da desaparecida era da confrontação, o presidente russo, Boris Ieltsin, declarou que a Rússia vai participar "ativamente" do projeto norte-americano "Parceria pela Paz". Trata-se de uma cooperação limitada entre a Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, e o Leste Europeu.
A Rússia não quer que seus vizinhos, como Polônia e Romênia, tornem-se integrantes plenos da Otan, pois teme ficar isolada militarmente. Embora tenha aprovado o "Parceria pela Paz", Ieltsin observou: "Vemos esta idéia como uma das opções para se construir uma nova Europa –uma delas e não a única".
No segundo e último dia da reunião de cúpula, o presidente norte-americano, Bill Clinton, detalhou novos projetos de ajuda econômica à Rússia: pelo menos US$ 1 bilhão anuais em 1994 e 1995. Organismos financeiros internacionais, como Banco Mundial e FMI, vão oferecer mais auxílio, anunciou Clinton, que deixa Moscou hoje para uma visita de seis horas à Belarus.
Numa tentativa de apagar a imagem criada por diversas promessas não-cumpridas de ajuda econômica, foram anunciadas iniciativas bilaterais, como a construção de uma unidade de engarrafamento da Coca-Cola em São Petersburgo. Ieltsin, no entanto, disse que "mais do que ajuda, a Rússia precisa da abertura do mercado norte-americano a produtos russos".
Pela manhã, Ieltsin, Clinton e o presidente ucraniano, Leonid Kravtchuk, assinaram o tratado de desarmamento. Em 1991, quando da sua independência com a desintegração da URSS, a Ucrânia prometeu entregar as armas nucleares que herdou das forças soviéticas para serem desmontadas na Rússia. Mas, nos últimos dois anos, o país, transformado em terceira potência nuclear do mundo, depois de Estados Unidos e Rússia, hesitou em cumprir o prometido.
Segundo o acordo, a Ucrânia vai transferir pelo menos 200 de suas 1.600 ogivas nucleares para serem destruídas na Rússia nos próximos dez meses e o restante "no prazo mais curto possível". O governo ucraniano deve se desfazer também de seus 176 mísseis nucleares de longo alcance.
Principal foco de resistência à entrega das armas, o Parlamento ucraniano ainda precisa ratificar o acordo de ontem. Os deputados nacionalistas argumentam que a Ucrânia deve manter o arsenal como proteção contra a ameaça do "imperialismo russo". Mas Kravtchuk recuou em troca de garantias de segurança dos Estados Unidos e da Rússia e de mais ajuda econômica ocidental para seu país.
A partir de 1.º de junho, Estados Unidos e Rússia vão apontar seus mísseis nucleares estratégicos (longo alcance) para zonas desabitadas. Washington também assinou acordo para comprar US$ 12 bilhões em urânio enriquecido russo, em parte originário dos mísseis ucranianos, nos próximos 20 anos. A Ucrânia também vai receber urânio da Rússia para alimentar suas usinas nucleares.
A exemplo de Kravtchuk, Ieltsin também enfrenta um novo Parlamento hostil, eleito em dezembro e com forte presença da oposição formada pelos ultranacionalistas e comunistas. Na entrevista coletiva conjunta, o presidente russo e seu convidado norte-americano amenizaram a ameaça dos oposicionistas. "No final, as reformas vão prevalecer", disse Clinton.

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