São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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'Homem-rato' vive em córrego

AMAURY RIBEIRO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

"Homem-rato", "homem-barata" e "lagarto" são os apelidos dados por indigentes de Belo Horizonte a um homem solitário de 130 quilos que mora nos esgotos e galerias do córrego Arrudas, no centro da capital mineira. Ninguém sabe qual é o verdadeiro nome do "homem-rato", seu apelido mais comum.
Depois de dois dias de procura, a reportagem da Folha conseguiu localizar o "homem-rato" em uma galeria do bairro Gameleira. Ele se apresentou como Jesus Cristo de Nazaré e permitiu ser fotografado. Após uma hora de contato com os repórteres, pronunciou sua primeira frase: "Não tenho vergonha de nada". "Falou", disse antes de se despedir e sumir entre as galerias do esgoto.
"Só se sabe que ele bebe a água do esgoto, come resto de lixo e não gosta de falar com ninguém. Apenas emite uns barulhos pela boca", disse à Folha o frentista Denis Ribeiro Gomes. O frentista disse que há três anos vê o "homem-rato" passar pelas galerias do Arruda.
"Apesar de muito pesado, ele tem uma agilidade muito grande para pular de galeria para galeria. Ele está virando um bicho. De tanta sujeira, ele parece ter escamas na pele", afirma o ator e pedagogo Lúcio Ventania, 26, que trabalha com meninos de rua da região.
Segundo o PM Antônio de Freitas, o "homem-rato" anda cerca de 20 km por dia às margens do Arrudas. "Andar é sua diversão principal. Ele anda do centro de Belo Horizonte até a periferia de Contagem", disse o soldado.
Embora viva solitário, o "homem-rato" é respeitado pelos demais indigentes da região. "Ele não incomoda ninguém. Nem pedir esmola ele pede", diz a indigente Luzarina de Souza, 49. (ARJr)

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