São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Euforia corintiana amanhece mais contida

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tá certo: futebol não é filantropia e essa história de clube co-irmão é conversa pra boi dormir. Os co-irmãos, se pudessem, fariam uma noite de São Valentim uns contra os outros. Mas que é uma pena o futebol paulista, justo neste momento de extrema euforia, perder um craque do nível de Dener, ah, isso é. Acho que até mesmo do ponto de vista do faturamento da própria Lusa seria mais negócio Dener ir para o Corinthians, em vez do Vasco. Isso porque a simples presença do jogador no confronto entre os dois faria o Morumbi reduzir-se ao tamanho de uma caixa de fósforos. Traduzindo: grana, muita grana na burra da Lusa.
Além do mais, a proposta do Corinthians, convenhamos, não era nenhuma pechincha –quase US$ 1,5 milhão, mais os passes de três ou quatro jogadores, tipo Marques, Tupãzinho, Ezequiel, enfim, um grupo seleto, capaz de montar um time, de uma hora pra outra, no Canindé.
Quanto ao Corinthians, que numa só tacada perdeu Válber, Rivaldo e Dener, consola a volta de Casagrande, escoltado por Marcelinho, Gralak, o novato Valdo e mais Wilson Mano, que à casa torna. Com Henrique, Gralak e Wilson Mano, por certo, o Corinthians fecha aquele buraco no meio da área, por onde se escoaram as esperanças do título brasileiro.
Confesso que, somando-se às perdas dentro da quatro linhas a fuga de Mário Sérgio, a euforia da véspera amanhece agora mais contida.
Hoje é um domingo de bola rolando, de manhã à noite. Graças à Copa São Paulo de Juniores, que, no gramado, é um encanto; fora dele, uma tragédia. Será possível que teremos todo ano de viver esse tormento? Junto com as águas de janeiro, essa enxurrada de incompetência, do lado da organização do evento, e de selvageria, do lado dos torcedores. Parece sina! Será que não dá pra Polícia Militar escalar contingentes à altura da demanda dos espetáculos? Ou é definitivamente proibido neste país o cidadão desvalido de tudo, sobretudo de sua cidadania, ter uma única vez no ano a chance de assistir a um bom futebol de graça?
Lá, onde a bola rola redondinha, porém, a competência é absolutamente esférica. Pelo menos, é o que sugere a campanha que o São Paulo vem cumprindo: em 4 jogos, 18 gols marcados e apenas 2 sofridos. Isso sem contar os desperdiçados.
Na sexta-feira, o Inter chegou a assustar, ao virar 2 a 1, no primeiro tempo. Mas, antes de o juiz apitar, o tricolor já havia revirado o jogo –3 a 2–, para terminar tudo com mais uma goleada.
E, na hora do sufoco, ao ser entrevistado, Murici foi enfático: "Futebol é isso. Temos de atacar sempre. Às vezes, tomamos também gols. Mas vamos atacar".
À noite, antes de seu Corinthians pegar o Bahia, Márcio Araújo foi revelador: "A vitória seria ótimo resultado. Mas não podemos subestimar o adversário". Resultado: o Corinthians subestimou-se, e conseguiu arrancar uma vitória apertada por obra de uma jogada magnífica, mas isolada, de Marques, que driblou quatro e enfiou a bola nas redes.
Por fim, o Palestra, à tarde, desencantou, goleou o tímido Sport, sem brilho excessivo, mas com pinta de finalista.
Por tudo isso, dos três, hoje, o único que segue na corda bamba é o Corinthians diante da Lusa. Os outros dois devem seguir adiante sem tropeços.

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