São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Bolsas devem operar sob o signo do touro

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A perspectiva de quem está no costado do touro parece melhor do que a de quem está nos braços do urso. No jargão das Bolsas de Valores nos Estados Unidos, os dois animais simbolizam o mercado em alta e em baixa, respectivamente.
Os americanos costumam usar a imagem para sugerir cautela, lembrando que o tombo pode ser tão fatal quanto o abraço. Querem dizer com isso que o investidor não deve se deixar levar pelo entusiasmo de ganhos já obtidos.
O ano passado foi o ano do touro. Quem aplicou em ações, em praticamente qualquer lugar, viu seu capital crescer. Pouco, como nos próprios Estados Unidos ou no Japão, ou muito, como no resto do mundo, Brasil inclusive. Estão todos, portanto, montados no touro –e atentos para não permitir que a posição privilegiada lhes distorça a perspectiva.
Ao que tudo indica, entretanto, o difícil em 1994 será exatamente conter o impulso de se apostar ainda mais nas Bolsas. Por mais cuidado que se tenha, não há como relativizar o fato de que todos os indicadores apontam para cima. Salvo o imponderável, o mercado acionário deverá mais uma vez bater outras aplicações.
Termômetro sensível da situação dos países, as Bolsas devem refletir este ano a conjuntura favorável resultante de uma série de fatores que vão impulsionar o comércio internacional, a principal mola da expansão. As conclusões das negociações do Gatt e do Nafta estiveram longe de esgotar o impacto sobre as Bolsas com a alta que provocaram ao serem anunciadas no final de 1993.
O potencial de valorização parece bem maior. No ano passado, o índice internacional das Bolsas, que é calculado pelo Morgan Stanley Capital International, subiu 20% –a maior alta em cinco anos. Mas os acordos comerciais influenciaram o comportamento do mercado somente nos últimos meses. Quando os resultados começarem a aparecer, portanto, é provável que as Bolsas recebam novo empurrão.
O cenário favorável às Bolsas é composto por outros dois elementos: o processo de privatização em países do Terceiro Mundo e o nível baixo dos juros internacionais. São fatores que foram determinantes para a tendência altista de 93 e que devem continuar a exercer a mesma pressão este ano.
Os juros baixos talvez tenham maior importância por desempenharem papel duplo. De um lado, fortalecem as empresas –que contam com crédito barato e incentivos ao consumo– e, de outro, fazem o investidor se desinteressar pelo mercado financeiro e migrar para o acionário. Como a inflação anual nos Estados Unidos está abaixo dos 3% ao ano e não ameaça subir, qualquer elevação nos juros está descartada, pelo menos por enquanto.
A maior parte da poupança canalizada para as Bolsas vem dos Estados Unidos. Por isso, é bom para outros países que as ações americanas, por se encontrarem muito valorizadas, ofereçam pequena rentabilidade. No ano passado, os americanos colocaram mais dinheiro nas Bolsas de outros países do que em Wall Street. A quantia que saiu do país atingiu a marca recorde de US$ 24 bilhões.
O Brasil, mesmo com inflação, é forte candidato a ser destinatário de boa parte dessa poupança. No ano passado, a Bolsa de São Paulo registrou valorização de 113%, em dólar, e ficou entre os primeiros lugares do ranking internacional de rentabilidade.

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