São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A vocação totalitária do PT

ODON PEREIRA

No seu artigo de sexta, 7 de janeiro, nesta coluna, o vereador Francisco Whitaker "esquece", covarde e desonesta intelectualmente, da questão básica proposta em minha réplica: o PT possui, essencialmente, uma vocação totalitária porque seus líderes atribuem as derrotas do partido ao "baixo nível político" ou à "despolitização" do povo. Essa concepção leva fatalmente o partido a substituir o povo. Num segundo passo, a burocracia do partido substitui este.
Em "Dinossauros não entendem a nossa língua" Whitaker foge à pergunta como um ladrão de galinhas.
Num "esquerdismo" pré-Neandertal atribui aos políticos seus adversários o objetivo de manterem conscientemente as carências do povo para dele se aproveitar.
Eis aí o tratamento do Olímpo com o povo mortal. Este não é sujeito, não é personalidade própria, não é entidade autônoma. Não tem papel a desempenhar na história – seus líderes "bons" ou "maus" resolvem tudo.
O PT não tem a concessão do monopólio do sentimento popular. Este é variado, rico, diversificado. É representado pelas correntes que fluem de seus diversos estágios políticos, regidos este sim, pela história. Mas o sentido dinâmico de história é estranho ao vereador.
Ele aplica o termo "nível" – um conceito de medida – para medir consciência. Baixa, no caso paulistano – quer ele.
Entre o nível baixo e o alto, o vereador estabelece um vazio. É assim que ofende as pessoas, considerando-as deficientes mentalmente quando não votam em seu partido. Esse raciocínio foi a base para os assassinatos em massa, expurgos, exílios na Sibéria, para os Gullag criados por Stalin.
Insisto: o PT segue a velha tradição dos partidos de esquerda: é preciso encher esse suposto vazio da consciência do povo com a ideologia da revolução. Os que não aceitarem serão os "dissidentes".
A questão permanece: o PT quer o Poder eleito por cérebros preenchidos por sua ideologia, pela ideologia do PT.
E daí vem a sua essencial vocação totalitária. Ele –como fez Stalin e faz Castro– tentará se eternizar no poder para "proteger" o povo. Pois este jamais alcançará o "alto nível" exigido pelo vereador Whitaker – cujo grupo é o único a saber mensurar.
Nossa tranquilidade é a certeza de que Lula não chegará lá.

Texto Anterior: Sergipe; Paraíba 1; Paraíba 2; Paraíba 3; Alagoas 1; Alagoas 2; Alagoas 3; Alagoas 4
Próximo Texto: Feira mostra prédio construído em isopor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.