São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
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Cruzeiros inundam a economia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A quantidade de dinheiro em circulação na economia explodiu em dezembro. O Banco Central revelou ontem que a base monetária –dinheiro em circulação mais reservas bancárias (recursos dos bancos depositados no BC)– cresceu 84% pela média diária, uma expansão de 33,59% acima da inflação medida pelo INPC (37,73%). O chefe do Departamento Econômico do BC, Hélio Mori, disse que o resultado influenciou na alta da inflação.
A explosão aconteceu porque todos ficam com mais dinheiro e ele gira mais rápido de uma mão para outra, e de uma aplicação financeira para outra, o que provoca a multiplicação do seu valor. A base cresceu de US$ 3,077 bilhões (CR$ 726 bilhões), em novembro, para US$ 4,107 bilhões (CR$ 1,339 trilhão), em dezembro.
Mori enumerou os motivos: a demanda de mais moeda por causa das compras de Natal, quando as pessoas resgatam aplicações financeiras e recebem o 13.º salário, expectativa de inflação e ingresso de capital estrangeiro de US$ 2,662 bilhões, o maior volume registrado no ano.
O diretor de Política Monetária do BC, Francisco Pinto, explicou que, em qualquer economia de inflação alta, a base monetária é muito reduzida porque o dinheiro da sociedade fica em aplicações financeiras. "Por isso, qualquer crescimento da base se torna percentualmente muito alto", argumentou.
Esse aumento significou dinheiro a mais para todo mundo. Ficou relativamente mais barato comprar um sanduíche e um refrigerante, o que cria a sensação de maior riqueza imediata. Representa, ainda, que o BC aumentou sua dívida imediata junto à população que carregou papel moeda no bolso, pois é ele quem garante o valor do dinheiro.
Para os economistas, tamanho crescimento do dinheiro em circulação faz acendera luz amarela na condução do programa econômico. "Se recorrente, traz graves problemas", diz Geraldo Carbone, diretor do Banco de Boston. "Os efeitos maiores, porém, acontecem depois de dois meses." O lado bom é que o ingresso de dólares está fortalecendo as reservas internacionais do país.
Em novembro, por exemplo, as reservas bateram um recorde: US$ 24,290 bilhões pelo conceito de caixa –disponibilidade imediata– e US$ 31,011 bilhões pela liquidez internacional, que inclui créditos a receber no exterior. A principal atração para o ingresso de dólares foi o juro alto. Exportadores anteciparam os contratos de câmbio e os investidores multiplicaram as operações de "box" nas Bolsas.
Só não cresceram mais em dezembro em razão de vários pagamentos externos realizados pelo Brasil. Pelo conceito de ponta –estoque de dinheiro na economia mais reservas bancárias em 30 de novembro comparado com 30 de dezembro–, a base monetária cresceu 80%.
A expectativa de mais inflação foi resultado, em parte, do anúncio da criação de um novo indexador, a URV (Unidade Real de Valor). Segundo técnicos da equipe econômica, a indefinição quanto aos critérios de conversão dos preços para a URV provocou remarcações preventivas.

Colaborou a Reportagem Local

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