São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
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Mortos do terremoto em LA chegam a 34

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Los Angeles amanheceu ensolarada, quente –30 graus, algo fora do comum até no suave inverno californiano –e exausta. Centenas de abalos secundários sacudiram a cidade durante toda a noite e, às 7h30 da manhã de terça-feira, um tremor de intensidade 4,9 graus na escala Richter fez a cidade tremer com força.
Mais do que o aspecto emocional, esses choques secundários, mais de cem ontem, trazem um problema bastante concreto para a cidade– um tremor mais forte, agora, pode fazer ruir estruturas que já tenham sido abaladas pelo de segunda-feira, de 6,6 graus.
Os "aftershocks" também não permitem que os trabalhos de busca, reconstrução e limpeza continuem normalmente –os reparos à via expressa "freeway 10", por exemplo, limitaram-se à colocação de andaimes de contenção. "Não podemos fazer nada mais extenso até os 'aftershocks' diminuírem", disse um representante da CalTrans, a divisão de obras viárias públicas. "Não há como garantir a segurança dos trabalhadores."
A lista de mortos continua crescendo –16 das 34 já computadas se devem a um único desastre, o desabamento do prédio Northridge Meadows, no subúrbio de Northridge, epicentro do terremoto de segunda-feira. São 1.870 feridos, mais de 15 mil desabrigados e prejuízos de pelo menos US$ 7 bilhões, segundo as companhias de seguros. A polícia diz que 73 pessoas foram presas por violarem o toque de recolher imposto entre o anoitecer de segunda e o amanhecer de ontem ou por participaão em saques.
Os angelenos começam a fazer perguntas inquietantes: a cidade como um todo está preparada, mas quem se responsabiliza pela fiscalização de prédios mais antigos, ou mesmo os recentes, que não tenham tomado as devidas precauções antiterremoto? E por que as "freeways" não foram restauradas como todos os engenheiros disseram que deveriam ser, principalmente após o terremoto de San Francisco, em 1989? Houve "outras prioridades", responde o governador Pete Wilson.
No início da tarde de ontem, ainda sob o impacto de repetidos e constantes abalos secundários, Los Angeles começava a voltar a algo que se parece com a normalidade. Do lado sul-sudoeste das montanhas de Santa Mônica, na planície que acomoda o centro e os principais bairros da cidade, a situação não é tão drástica –muito vidro quebrado, sinais de trânsito inoperantes, algum reboco caído. A maioria das lojas, bancos e escritórios está fechada. Serviços de luz, telefone e correios ainda são irregulares, mas, no geral, estão operando.
O trânsito ainda está leve –graças, em parte, aos apelos repetidos, na TV e no rádio, para que quem puder evitar sair de casa o faça. O impacto do fechamento de algumas das principais artérias de trânsito– ainda não pode ser efetivamente percebido.
No vale de San Fernando, a situação é grave. Luz e telefone não funcionam. A vasta região comercial que segue o Ventura Boulevard de Woodland Hills a Studio City está parcialmente em ruínas, com lojas e prédios desabados, água jorrando de canos estourados, meio-fio, calçadas e asfalto rompidos pela força do terremoto. Nos poucos supermercados abertos, filas se estendem porta afora e o atendimento é confuso, com funcionários tentando ao mesmo tempo limpar e arrumar prateleiras e servir clientes. Em muitos deles faltam água potável (o abastecimento de água no vale está irregular e talvez contaminado), lanternas, pilhas.
O clima, contudo, não é nem de pânico, nem de depressão. O solo sempre tremeu na Califórnia, e o angeleno –dos índios chumash ao cosmopolita de hoje– sabe que estes abalos "fazem parte do território", como se diz aqui. A atmosfera é de solidariedade, calma e, na medida do possível, bom humor. A Universal Studios fechou a instalação "Earthquake" de seu parque, em respeito às vítimas.

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