São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994 |
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Zezé diz que matou porque era humilhado
MARIO SERAPICOS
Ele contou que no hora do crime um outro diretor, José Carlos de Souza, o Carlinhos, discutia com Cruz sobre o fechamento da subsede de São Caetano. Zezé disse que entrou na sala e mostrou uma conta de luz vencida e exigiu a retomada do pagamento da ajuda de custo que Cruz havia cortado em agosto. "Eu disse a ele que era um pai de família igual a ele e ele dizia que não interessa que ia tentar cada vez me ferrar", conta Zezé. Cruz então mandou que ele saísse da sala. "Ele disse que eu ia sair por bem ou por mal. Virou para trás e se agarrou numa gaveta onde eu sabia que ele escondia uma arma. Aí eu pensei: é eu ou é ele. Puxei da arma que tava na cintura e dei três tiros. Ele continuou agarrado na gaveta e eu dei mais um até ele largar", narra Zezé, que teria saido da sala assim que Cruz tombou para o lado e se apoiou na mesa. Zezé disse que saiu da sala de Cruz, viu duas pessoastnuma ante-sala, uma delas que ele conhece pelo nome de Carlão, desceu as escada correndo, foi até um terminal de ônibus em frente ao Mappin de Santo André e tomou um ônibus para a casa de parentes em São Mateus, bairro da Zona Leste de São Paulo. Desde esse dia ele afirma que tem se refugiado na casa de um parente que não tem nem televisão e que não viu e nem se comunicou com sua mulher e seus quatro filhos, o mais velho de 13 anos, desde o dia do crime. O assassino de Cruz contou toda a sua trejetória desde deixou Bodocó, no interior de Pernambuco, em 1989. "Eu era da roça, trabalhava eu mais minha família de seis irmãos e foi lá mesmo na roça que estudei um pouquinho", disse. Chegando em São Paulo, Zezé trabalhou como predeiro e um parente seu que trabalhava na Viação Alpina de Santo André, lhe arrumou um emprego de cobrador. Logo em seguida, ele disse que começou a frequentar o sindicato. No começo do ano passado concorreu ao cargo de cipeiro (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e foi o mais votado na empresa, com 50 votos –votaram cem funcionários. Cícero Bezerra da Silva, que já era diretor do sindicato, o convidou então para entrar na chapa que estavam montando e que tinha Cruz como candidato à presidência. Zezé disse que se filou ao PT, "porque todo pessoal lá do sindicato também era e eles me convidaram", mas que nunca frequentou reuniões do partido. Ele assegura que nunca havia ameaçado matar Cruz. "Ele é que falou prá mim que numa assembléia ia reunir mais de duas mil pessoas e que ia me pegar", conta Zezé. "Ai eu disse prá ele: por que você não me mata de uma vez. E ele respondeu: apanhando de mais de dez vira linchamento", afirmou Zezé. Texto Anterior: CEF negocia dívida com os funcionários Próximo Texto: Congresso vai ocupar dez minutos na TV Índice |
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