São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Mercadante e Benito tiveram a maior guerra de egos da CPI

RUDOLFO LAGO
GUSTAVO KRIEGER

GUSTAVO KRIEGER; RUDOLFO LAGO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os deputados Aloízio Mercadante (PT-SP) e Benito Gama (PFL-BA) travaram a maior guerra de egos da CPI do Orçamento. A Subcomissão de Bancos, coordenada por Benito e integrada por Mercadante, foi pequena demais para os dois. Irritado com a habilidade de Benito em vazar informações antes dele, Mercadante acabou deixando a subcomissão.
A briga entre os dois ficou clara no dia em que os técnicos do Prodasen (Centro de Processamento de Dados do Senado) organizaram uma entrevista coletiva para explicar como eram processadas as informações obtidas pela CPI com a quebra de sigilo bancário dos investigados. A diretora do Prodasen que deveria fazer a exposição acabou assistindo constrangida enquanto Mercadante e Benito se empurravam para disputar um lugar em frente aos microfones e câmeras de televisão. Os dois ganharam os apelidos de "Egoízio" Mercadante e "Bonito" Gama.
Certo dia, Benito olhou para um quadro comprado por sua mulher e detestado por ele e comentou: "É a coisa mais feia que já vi na minha vida", comentou Benito. "Acho que vou dá-lo de presente para o Mercadante".
O sucesso de Benito com a mídia e especialmente com a Rede Globo provocou o ciúme e uma rebelião dos outros integrantes da subcomissão, que o acusava de privilegiar a emissora com informações. Mercadante combinou com outros deputados da subcomissão que, em um dia, cada um deles vazaria a mesma informação para toda a imprensa, menos para a Globo.
O senador Paulo Bisol (PSB-RS) entrou com força na guerra de egos ao descobrir os papéis apreendidos na casa de um diretor da empreiteira Norberto Odebrecht. Ele anunciou aos jornais que tinha em mãos uma bomba capaz de desestabilizar a democracia no país. Divulgou os nomes em entrevista coletiva, na qual os parlamentares se acotovelavam para aparecer na imagem das TVs. Contou com o apoio de Mercadante, que deixou a área de bancos para tratar de empreiteiras. Ao final do relatório, patrióticos, Bisol e Mercadante concluíam, apoteóticos: "Pelos brasleiros", liam para a imprensa, no plenário da CPI, com o ar grave e compungido que o momento exigia.

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