São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Alta-costura se rende à moda do dia-a-dia

FERNANDA SCALZO
DE PARIS

A alta-costura não é lugar para a androginia. É como se todos os criadores tivessem se reunido para deliberar isso. A estréia nas passarelas de alta-costura da modelo canadense Eve Salvail, que brilhou na última temporada do prêt-à-porter, serviu para reforçar a tese. Seu ar moderno, andrógino e entediado foi travestido pelo vestido de noiva de Christian Lacroix.
A temporada de desfiles de alta-costura primavera/verão 1994, que se encerrou anteontem em Paris, mostrou sobretudo modelos ultrarromânticos e femininos. Mas nada muito armado ou emperequetado. Soberana absoluta a musseline, e outros tecidos moles e leves, deixam as formas soltas e permitem a sobreposição de comprimentos e tecidos. As transparências fazem entrever o corpo, as mínis valorizam as pernas e as barrigas de fora dão o ar moderno.
Outro senso comum são as referências ao Oriente, em modelos com ares japoneses, chineses, hindus ou das arábias, tendência que já havia aparecido no prêt-à-porter. Com exceção dos dos trajes meio espaciais em fios metálicos que Paco Rabanne reeditou para uso com sandálias um tanto impossíveis de andar, a moda é para vestir. Ou seja: ainda que somente numa noite de gala, é possível imaginar os modelos fora das passarelas.
Se o mau-gosto deliberado de Christian Lacroix pegar, as grandes estampas e colchas de retalhos saem a passear com as rendas em modelões fim-de-século (passado). Gianfranco Ferré, para Dior, também saiu em busca do tempo perdido, em modelos batizados com nomes tirados de Proust (Albertine, Combray). Bem dândi, Ferré apostou no que chamou de "excentricidade francesa", com babados e mangas bufantes. Criou também modelos trompe l'oeil, vestidos que parecem um vestido com blazer por cima.
Micheal Klein, em seu primeiro desfile de alta-costura para a maison Guy Laroche, fez Michel Klein à mão. Ou seja, os mesmos modelos de linhas simples que fizeram sua fama no prêt-à-porter, mas com os tecidos trabalhados e o acabamento impecável que só a alta- costura pode dar. Se as compradoras não acharem isso pouco, um novo estilo estará criado para a marca Guy Laroche, mas a confirmação só virá na próxima temporada.
Emanuel Ungaro não poupou trabalho nos tecidos, rendas e drapeados, e deu seu toque oriental em várias interpretações de turbantes nas cabeças famosas. Karl Lagerfeld acertou em seus modelos mínis da Chanel e criou o zum-zum-zum necessário a todo desfile ao pôr as top models com os rostos cobertos. Yves Saint Laurent fez seus clássicos de elegância impecável e Givenchy fez o mesmo sem tanta elegância. Lecoanet Hemant, em sua alta-costura ecológica com tecidos em fibra de bananeira e cores e formas tiradas do mar, foi o responsável por um dos looks mais modernos da temporada. Mais que ele, só Gianni Versace com suas salopetes e modelos prateados. (Fernanda Scalzo)

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