São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Temperatura pára Nova York

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Nova York pode ser "a cidade que nunca pára", mas o frio recorde deste inverno congelou boa parte do seu movimento. Muitas lojas e escolas ficaram fechadas ontem,
com a temperatura em torno dos 18 graus negativos. A multidão de vendedores ambulantes e camelôs simplesmente desapareceu das ruas da cidade.
Até assaltantes decidiram ficar em casa: o índice de criminalidade caiu pela metade nos últimos dias.
No zoológico do Bronx, os ursos polares estão dispensando mergulhos na piscina contsruída para eles.
A reportagem da Folha percorreu a 5.ª avenida desde o Rockefeller Center até o Village e encontrou apenas um vendedor ambulante. Rebocando sua carrocinha de
venda de "donuts" e café.
"Vou ficar em casa nos próximos dias. Simplesmente não compensa sair às ruas. Ninguém quer comprar nada", disse Carlo Giannini.
Algumas pessoas, no entanto, não podem fugir ao trabalho na rua. O guarda de trânsito Michael Haynes orientava motoristas no cruzamento da 5.ª avenida com rua
50, um dos 800 que estavam com sinais de trânsito pifados por causa do frio. "O segredo é se vestir com muitas camadas de roupa –estou usando cinco– e se manter em movimento", disse o guarda, que lacrimejava de frio.
A maioria das obras e trabalhos de reparo nas ruas está suspensa.
As tarefas de emergência são cumpridas por trabalhadores que se revezam a cada dez minutos.
A entrega de cartas continua funcionando. "Tento ignorar o frio, pensar em outra coisa. E fazer o serviço o mais rápido possível", disse a carteira Sônia Contreras,
distribuindo correspondência a pé entre as avenidas Madison e Park.
Na Broadway, nas imediações do Soho (sul de Manhattan), o camelô Hakahin Yarahdah era o único com coragem para enfrentar o frio recorde.
"Essas situações é que separam os fortes dos fracos. Vou me dar bem porque não tenho nenhuma concorrência", disse Yarahdah, que esperava faturar US$ 150 ontem vendendo incensos e essências para perfume.
Quase todos os jornaleiros improvisaram cortinas de plástico para se proteger do frio. Um deles disse à Folha que conta com a solidariedade de clientes e vizinhos para se manter aquecido.
"O pessoal traz café e sopa quente para mim durante todo o dia", disse Toure Vassindou. Pelo menos duas pessoas morreram em incêndios causados por fogueiras,
enquanto tentavam se aquecer.
O único setor da economia que parece agradecer às temperaturas gélidas é o de agências de viagens, que estão vendendo pacotes para as ensolaradas ilhas do Caribe como água. As reservas estão praticamente esgotadas até o fim do inverno, em março.

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