São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Furto de dois envelopes beneficia Aleluia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O furto de dois envelopes de documentos na Subcomissão de Bancos pode ter sido a salvação do deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) do pedido de cassação. Os envelopes, furtados há cerca de um mês, continham toda a análise da movimentação bancária de Aleluia.
Após o furto, os documentos foram requisitados novamente ao Banco Central, mas só chegaram após o fechamento do relatório final, às 22h30 de quinta-feira.
Um deputado que chegou a consultar os novos documentos enviados pelo BC afirmou que a movimentação bancária do deputado é incompatível com seus rendimentos. Apenas o cruzamento com a Subcomissão de Patrimônio permitiria tirar uma conclusão definitiva. Como não houve tempo, Aleluia não correu o risco de ser investigado em profundidade.
Mesmo sem os documentos completos, a cassação de Aleluia foi votada e aprovada em duas subcomissões. Ele aparece nos documentos da Odebrecht como um dos principais operadores do lobby da empreiteira: "É um despachante das empreiteiras", definiu o deputado Sérgio Miranda (PC do B-MG).
A confusão em torno de Aleluia aumentou com a divulgação do texto do relatório final: havia duas conclusões diferentes para o caso do deputado. Em um parágrafo, o texto recomendava a remessa das provas à Mesa da Câmara, para abertura do processo de cassação. Logo em seguida, mudava completamente a conclusão, sugerindo apenas o prosseguimento das investigações.
Errata
A contradição deixou irritado o relator Roberto Magalhães (PFL-PE). "Meu relatório não tinha isso", disse Magalhães, explicando que sua conclusão não era pela cassação de Aleluia. Ele divulgou uma "errata" corrigindo o texto. "Houve um acordão de última hora para livrar alguns deputados", afirmou Aloizio Mercadante (PT-SP), rebatendo a explicação do relator Roberto Magalhães.
Além do trecho sobre Aleluia, a errata de Roberto Magalhães incluiu o trecho inocentando Eraldo Tinoco (PFL-BA), que estava fora do relatório impresso.
O deputado Aleluia se disse de "bom astral". Ele afirmou que esperava ser inocentado, mas que o resultado "foi coerente" porque faltavam dados para análise da CPI. O deputado já prepara sua defesa à Mesa da Câmara, para onde será encaminhado o relatório da comissão.

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