São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Vai ser fácil, sim

FLAVIO GOMES

De um dia para o outro, Senna deixou de ser favorito, a Williams já não tem mais o melhor carro do mundo, o campeonato ficou equilibrado, a Ferrari voltou ao clube dos favoritos. Esse é o resultado de algumas declarações pouco entusiasmadas de Ayrton depois de poucas voltas guiando uma máquina que ele mesmo, há algum tempo, disse que pertencia a algum ET, vinha de outro planeta, era imbatível.
Senna não está otimista, Frank evita falar como campeão e isso bastou para os plantonistas da bola de cristal proclamarem a profecia que ninguém esperava: não vai ser tão fácil assim, pode escrever, me dizem em italiano, inglês, francês, alemão e croata. Eu não falo alemão nem croata, mas sei que é isso que os caras dizem.
Motivo da desconfiança: Senna não gostou do carro que lhe deram para guiar. Ele anda reclamando, diz que não é nada daquilo que falavam, tem defeitos, sim, e tudo isso porque tiraram alguns chips e botaram uns amortecedores no lugar. Experimente trocar o volante de seu carro por um guidão de bicicleta. A sensação será a mesma que Ayrton tem ao dirigir o híbrido passivo que testa no Estoril.
É claro que o Williams de 93 sem suspensão ativa não é nenhum espetáculo. O carro que surgiu em 91 foi feito sob encomenda para as engenhocas eletrônicas que a equipe soube desenvolver como ninguém. O desempenho pouco vistoso só salta aos olhos porque a Williams botou a cara para bater antes que os outros. Está testando componentes para o novo carro, esse sim o que vale a partir de Interlagos. Quando a Ferrari, a McLaren e a Benetton começarem a andar com seus carros novos, também vão enfrentar problemas. E, pior para eles, vão ter menos tempo para resolvê-los. A Williams está na frente de novo.
As mudanças de regulamento da F-1 vão fazer de 94 um ano de pilotos e motores. A Williams pode ficar tranquila. Tem o que há de melhor no mercado nos dois quesitos. Vai ser fácil sim. Se não por outro motivo, principalmente porque Senna não tem adversário humano à altura com as ausências de Prost e Mansell –o trio de ferro do automobilismo mundial.
Se Prost voltar –e ele só volta se o motor Peugeot for um foguete–, aí sim dou a mão à palmatória. Vai ser menos fácil. Imaginar que Schumacher, Hakkinen e até mesmo Alesi podem ameaçar Senna e a Williams é quase a mesma coisa que apostar na Portuguesa no Campeonato Paulista. Chance zero, brother.

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