São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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'SBT e Bandeirantes são competentes'

DA REPORTAGEM LOCAL

Joseph Wallach diz que falta concorrência à Globo e que é preciso tempo e dinheiro para desbancar a liderança da emissora. Ele elogia o SBT e Bandeirantes: "Estão fazendo a programação deles da única maneira que se pode combater a Globo".
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Folha - O sr. conhece alguma rede de TV no mundo que tenha crescido tanto quanto a Globo?
Wallach - No mundo, a maior parte das TVs era estatal. No México tem o grupo Azcárraga, que tinha um monopólio até agora, quando está se abrindo para outros canais.
Folha - A Globo não tem um virtual monopólio?
Wallach - Não é um monopólio, é um liderança muito grande... Porque o mercado está aberto. A questão é que alguém tem que tentar tirar audiência deles. Até agora, os concorrentes não agiram muito bem na parte de programação e administração. Falta concorrência. É a história do peixe grande: peixe grande começa a comer os outros pequenos.
Folha - Como foi possível conseguir essa tal liderança?
Wallach - Televisão é hábito: "Jornal Nacional" às oito horas, novela às nove... A não ser que alguém venha e mostre outra alternativa tão boa ou melhor. Leva tempo e dinheiro para mudar o hábito. Silvio Santos, aos poucos, está mordendo das seis às oito da noite. Depois das dez horas, está passando bons filmes e colocou o Jô Soares às onze horas. Não pode fazer exageros. Se faz como a Manchete fez e troca os pés pelas mãos, aí vai embora.
Folha - Por que a Manchete deu errado?
Wallach - Você precisa de profissionais competentes. Eles colocaram uma programação errada. Deram ênfase ao jornalismo quando se devia dar ênfase às novelas nas horas em que a Globo não tinha novelas. Aí a Globo fechou a porta para eles. Faltou experiência e competência. Silvio Santos e João Saad são extremamente competentes. Estão fazendo a programação deles da única maneira que se pode combater a Globo: Bandeirantes com esportes e filmes e Silvio Santos na periferia. Estão agindo muito bem.
Folha - É verdade que Roberto Marinho não dava bola para televisão no começo e que quem construiu a Globo foi Walter Clark e Boni?
Wallach - O Roberto Marinho foi lá todos os dias no fim do dia. Walter e Boni foram os homens operacionais. Roberto Marinho sabia que a televisão ia ser muito maior que jornal. Ele estava interessadíssimo mas não tinha conhecimento. Ele teve a sabedoria de deixar os profissionais trabalhar.
Folha - Foi o sr. quem teve a idéia de se criar uma política de altos salários para executivos da Globo?
Wallach - Eu achava o seguinte: aqueles que dirigiam o caminhão, que foram os responsáveis pela Rede Globo, mais ou menos uma dúzia de executivos, deviam ter bons salários e, se houvesse lucro, teriam que ganhar alguma coisa.
Folha - O sr. ganhava US$ 1,2 milhão ao ano na Globo?
Wallach - Não me lembro... Não sei, não sei. Walter e eu ganhamos num certo ponto a mesma coisa, mas depois o Boni começou a ganhar muito mais. Prefiro não responder.
Folha - Por que o sr. deixou a Globo em 1980?
Wallach - Eu estava sozinho no Brasil, meus filhos tinham ido para os EUA e decidi que seria o mentor dos meus filhos.
Folha - Por que saiu da Globosat?
Wallach - Primeiro porque implantei e não queria ficar mais na área de combate, no dia-a-dia. Segundo que minha participação acionária foi diminuída pela família Marinho porque eles tiveram que colocar um pouco mais de dinheiro e eu não achava isso muito bom. A Globo queria tudo para eles. Eu não achava justo pelo trabalho que estava fazendo. Foi mais ou menos isso e um pouco de falta de comunicação entre comunicadores. Mas doutor Roberto e eu continuamos amigos.
Folha - O sr. planeja algum tipo de negócio no Brasil?
Wallach - Estou pesquisando um negócio novo ligado a televisão e telefonia. O Brasil pode dar um pulo na área de telecomunicações. Há uma maneira de fornecer telefonia e televisão, juntos, para a maior parte do país e muito mais barato. Pode-se usar os cabos de TV para transmitir sinais de telefone. Ou o inverso: usar cabos de telefone para transmitir sinais de TV. Hoje temos 11 milhões de linhas telefônicas e mais 14 milhões que estão esperando telefones. Isso tudo pode ser superado com a nova tecnologia. Está acontecendo na nossa frente.

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