São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
Próximo Texto | Índice

Capital externo caça negócios no país

NILTON HORITA

Uma nova aventura brasileira recheada de emoções está começando. Depois das bolsas e eurobônus, o capital estrangeiro abriu a temporada de compras de empresas e imóveis. O Citibank, por exemplo, decidiu investir US$ 1 bilhão no programa de privatizações do Brasil e lançar um fundo de investimento de US$ 100 milhões para a compra de participações em empresas brasileiras.
O Chemical Bank fez o mesmo e iniciou a análise de companhias brasileiras com potencial de crescimento. As cotas de fundos desse tipo estão abertas a brasileiros também, mas os valores são milionários. Se alguém tiver US$ 5 milhões, é um candidato.
Por essa razão, os investidores são empresas e capitalistas que estão no topo do mundo financeiro. O Garantia, um dos precursores desse novo mercado no Brasil, administra com sucesso um fundo que já aplicou US$ 30 milhões.
A compra da Artex pelo Garantia foi, na verdade, um negócio desse tipo. Os novos proprietários da Artex são cotistas estrangeiros e brasileiros de um fundo constituído especialmente para a operação, o Garantia Partners (GP).
Cláudio Haddad, superintendente do Garantia, afirma que esse mercado se movimenta entre empresas fechadas e que possuam algum talento especial. "Temos também um fundo específico para médias empresas", diz.
O Pactual e o Banco Icatu seguiram o caminho. O maior fundo é o do Icatu, que tem patrimônio de US$ 100 milhões. A badalada agência DM9 só existe por causa do investimento do Icatu. Depois que o publicitário Nizan Guanaes se tornou um sucesso internacional, o Icatu revendeu as ações para os donos da DM-9.
Este mercado tem tudo para ser a moda financeira de 94. O JP Morgan comprou recentemente 15% da Latasa e 10% do Mappin. Trata-se de uma estratégia mundial do Morgan: compra participações de empresas com potencial, para depois revendê-las com lucro.
"Estamos começando um novo round de troca de propriedade de empresas", explica José Monforte, vice-presidente do Citibank. "Há a percepção de que o país vai se estabilizar, até por decurso de prazo, e retomar o crescimento. Esse cenário cria uma boa oportunidade de negócios."
Hoje, o preço dos ativos é um. Depois, se tudo der certo, será outro, mais alto. Monforte entende que muitas empresas não conseguirão acompanhar uma nova fase de crescimento por falta de capital.
"Quando perceberem isso, elas mesmo terão de se lançar à venda", afirma. "Qualquer investidor estrangeiro com quem converso indica esta tendência."
Daniel Dantas, presidente do Banco Icatu, explica que o fundo pode participar também de novos empreendimentos, nascidos de idéias geniais, mais ou menos como ocorreu nos Estados Unidos com a Apple, um dos grandes sucessos da informática que começou em uma garagem.
"Nós investimos, por exemplo, no Nilton Molina, um ex-executivo de seguros. Hoje dá gosto ver seu sucesso", conta Dantas. "Se algum empresário, pode ser do tamanho que for, quiser conversar, é só nos procurar. Dinheiro não será problema."
Esta agresssividade no mercado brasileiro levou o Chemical Bank a desembarcar especialistas no Brasil. "O capital flui para onde há bons negócios", diz Wayne Perkins, diretor de investimentos do banco. "Temos que entrar agora, senão a concorrência chega primeiro."

Próximo Texto: Com pontualidade; Boa notícia; Investimento previsto; No escambo; Mercado de Couro; Protecionismo verde;
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.