São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Só Palmeiras e Telê esvaziam Paulistão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

No primeiro domingo de futebol paulista, não temos em campo o campeão Palmeiras. Espertamente, seus dirigentes conseguiram espichar um pouco mais o tempo de preparação da equipe, ampliando, também, a margem de possibilidade de renovação dos contratos de algumas de suas principais estrelas. O argumento é de que, enquanto os outros já gozavam os primeiros dias de férias, o Palmeiras disputava o título brasileiro, em nome do futebol paulista. Nada mais justo.
Pode até ser que o Palmeiras não consiga iniciar sua caminhada em direção ao bi com sua constelação completa. Nem se espere que já comece em ponto de bala, o que, aliás, seria arriscado, além de quase impossível. Mas bastará colocar em campo metade daquele time, mais Rincón, que já é favorito na estréia.
Aliás, por falar em Rincón, o técnico Luxemburgo já avisou que o colombiano será seu reserva de luxo. Se assim for, será uma arma letal apontada para a cabeça de todos os adversários. Já pensaram naquele negrão disparando sobre inimigos já cansados no segundo tempo?
Contudo, eu arriscaria uma jogada: a passagem de Mazinho para a lateral-direita, com a natural entrada de Rincón pelo meio. Claro que o Palmeiras perderia em reflexão e segurança no meio-campo, mas ganharia em agressividade e rapidez.
Num momento qualquer deste campeonato, isso irá acontecer. Aí vai ser uma festa verde, aos compassos da mais viva tarantella.
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O outro supercampeão, porém, entra em campo neste domingo, para enfrentar o Santo André, na casa do inimigo. Embora desfigurado, pela ausência de Telê no banco, e ainda sem as contratações desejadas, sempre é o São Paulo, com um meio-campo equilibrado e uma parelha de beques lá atrás de assustar qualquer um –Júnior Baiano e Gilmar. Até mesmo (ou principalmente) seus próprios torcedores.
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Ah, que boa chance terá o Corinthians de descontar esta tarde a desfeita que a Lusa lhe fez, ao negar-lhe Dener...
Mas algo me diz que esse novo Corinthians vai penar um pouco antes de se entrosar. Claro, pois se meio time acaba de arribar no Parque e até o técnico é um estreante, como esperar que a equipe já comece engrenada? Ainda mais que Casagrande é dúvida para o clássico de hoje. E ele, com sua experiência, sim, poderia organizar seus companheiros na hora do vamos ver.
A propósito, Afrânio Riul me disse outro dia que pensava em aproveitar Casão lá na frente, em dupla com Viola. Um dueto de arrancar do peito inflado o coração corintiano, sem dúvida, pois trata-se dos dois maiores carinhos da Fiel.
Não tive chance de dar minha opinião a Riul. Faço-o agora. O amigo tem visto como anda jogando o holandês Gullit, lá no Sampdoria? Ele carrega o número 4 nas costas, mas, à sua frente, qualquer caminho é caminho. Livre e desimpedido, Gullit faz em campo o que seu instinto, apuradíssimo por sinal, e sua experiência recomendam. Sei bem que Casão não tem a mesma velocidade do holandês voador, mas imagino que ele solto para circular por todas as partes do campo seria de inestimável valor para seu time. Muito mais que preso lá na frente.
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Zico chegou e, do alto de sua autoridade como craque e como homem, mandou Romário calar a boca e jogar bola. Zico foi o maior jogador brasileiro depois que Pelé encerrou sua carreira. Zico e Pelé jamais abriram a boca para provocar dissensões no grupo. E olhe que tiveram caminhões de oportunidades e toneladas de argumentos.

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