São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
Índice

Beth Carvalho exalta o 'túmulo do samba'

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Beth Carvalho
Músicos: Neco e Carlinhos (violões do de 6 e 7 cordas), Marcio Almeida (cavaquinho), Valtinho (bateria), Gordinho (surdo), Paulinho da Aba (pandeiro) e Marcelinho (repique de mão), baterias da Mangueira e Vai Vai
Quando: hoje às 18h
Onde: Vale do Anhangabaú, região central
Quanto: grátis

A cantora Beth Carvalho jura que nunca aconteceu antes: uma intérprete carioca fazer um disco e um show exclusivamente de sambas paulistanos. Há um mês, ela lançou o CD "Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo" (Velas), o 25.º em 25 anos de carreira. Hoje, às 18h, ela homenageia os 440 anos da cidade de São Paulo com um show baseado no repertório do disco.
Beth não crê no folclore em torno da frase atribuída ao poeta Vinicius de Moraes, segundo o qual São Paulo seria o "túmulo do samba": "Não acredito que ele tenha dito isso, mesmo porque é uma frase de mau gosto. São Paulo tem grandes sambistas e características próprias." Cita o ritmo mais lento, a temática mais melancólica e tragicômica das músicas de Geraldo Filme e Sílvio Modesto. "É um samba mais urbano e disperso do que o do Rio. Os negros paulistanos de raiz trabalharam na roça e guardam características rurais."
Alguns desses sambas ela mostra a São Paulo. Depois, canta um pot-pourri de pagodes da geração surgida em 1984 e uma sequências de sucessos. "Quero mostrar o samba de verdade", diz. Show e disco aparecem na plena voga do "sambrega".
"Não adianta ninguém querer me convencer de que essa nova turma faz samba, porque não faz", critica. "Essa música é jogada das gravadoras. É versão de Roberto Carlos e sertanejo em ritmo de samba."
Beth sustenta as posições contando um pouco de história. Diz ter descoberto uma nova geração de sambistas em 1979, com o disco "Beth Carvalho no Pagode". Ali surgiram Zeca Pagodinho e o grupo Fundo de Quintal, entre outros, músicos que tocavam tantã e repique combinados à formação tradicional de violão, pandeiro e cavaquinho. "O samba da moda usa só tantã e repique com teclados. É uma coisa de baixo nível, mau gosto mesmo." Para Beth, o aspecto negativo não está no teclado. "Eu introduzi o teclado no samba em 1971, no LP 'Canto para um Novo Dia'. Em 85, introduzi sintetizadores (em 'Das Bênçãos que Virão com os Novos Amanhãs'). Mas esse samba brega aí faz tudo mal feito. O samba está muito pasteurizado. O pior é que esses músicos são explorados pelas gravadoras e empresários."
A cantora reconhece duas consequências positivas na nova moda: "Agora, quando a gente liga o rádio, tem a sensação de que está no Brasil e a juventude perdeu a vergonha de sambar. Só espero que esses grupos novos comecem a gravar samba de verdade, o de Monarco, Geraldo Filme e Prateado". Prateado, explica, é um compositor de samba verdadeiro de São Paulo. Beth se considera doutora em samba paulistano.

Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.