São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Crescem as diferenças sociais

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MOSCOU

Crescem as diferenças sociais
Se nos tempos soviéticos as filas provocadas pelo desabastecimento compunham o cartão postal de Moscou, na era da "terapia de choque" os quiosques abarrotados de produtos estrangeiros prevalecem. Mas as diferenças sociais aumentaram e hoje o Ministério do Trabalho classifica 73% dos cidadãos russos como "pobres" ou com "baixa renda".
Iegor Gaidar trouxe da Polônia a experiência de liberalização do comércio, antes sufocado pelas mãos ineficientes do Estado soviético. Os quiosques proliferam pelas calçadas de Moscou e oferecem de chocolates holandeses por 500 rublos (0,3 centavos de dólar) a máquinas fotográficas japonesas por 620 mil rublos (US$400).
Também pecado na era soviética, a compra e venda de moedas estrangeiras tornou-se uma operação corriqueira para os russos. Até mesmo a cotação do rublo passou a ser um termômetro da instabilidade política. Nas últimas duas semanas, ela saltou de de 1.247 para 1.544 rublos para cada dólar.
Com as privatizações, a expansão do comércio e a formação de um mercado financeiro, a Rússia começou a contar com seus milionários e uma diminuta classe média, para quem já se oferece um sofisticado padrão de consumo. Restaurantes moscovitas trazem contas de até US$ 100 por pessoa e vôos da Aeroflot decolam lotados levando turistas russos para a Tailândia ou a França.
Mas o salário mínimo ainda soma parcos US$ 9,50 e a remuneração média atinge a casa dos US$ 104. Dos 73% da população que o Ministério do Trabalho classifica como "pobres" ou "de baixa renda", o primeiro grupo é caracterizado como tendo "uma renda menor ou igual ao nível de subsistência" e o segundo, com rendimento "inferior ao nível mínimo de consumo".
Pressionados por um salário raquítico, muitos russos foram empurrados para a economia informal. No metrô apareceram vendedores ambulantes. Nos arredores do estádio de futebol Lujniki a prefeitura organizou um "camelódromo", onde se vende de pregos usados até seda chinesa. (JS)

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