São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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na pele do MONSTRO

CLAUDIA GONÇALVES

Osmar Prado, 46, conseguiu a façanha de dar dimensão humana a Hitler. Seu personagem mais polêmico em 34 anos de carreira pode ser visto na peça "Uma Rosa para Hitler", em cartaz na cidade. "Quis mergulhar na alma do homem", diz. Aqui, ela conta como construiu o ditador e porque trocou a Globo pelo SBT, onde deve estrear em maio.
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–Que tal ser acusado de defender o nazismo?
–Cheguei a receber bilhetes de pessoas que viram a peça perguntando se eu queria fazer com que as pessoas gostassem do Hitler. Agora, o que me chateou é que a maioria que se levantou contra mim e contra os autores da peça não tinha idéia do texto e nem viu o espetáculo, não sabia que pessoas da comunidade judaica estavam apoiando a peça. É muito mais simples imaginar que tudo foi produzido por um carrasco. É preciso não esquecer que o partido nacional-socialista da Alemanha chegou ao poder pelo voto direto. Então, é necessário ter uma visão mais ampla dessa personalidade, para saber que Hitlers podem surgir novamente, disfarçados de anjos. A eleição do Collor de Mello mostra bem isso.
–A identificação entre personagem e ator ajuda ou atrapalha?
–Se o ator não tiver distanciamento para eliminar qualquer tipo de defesa com relação ao personagem, ele pode não conduzir bem a atuação. Não posso fazer Hitler com uma visão maniqueísta. Ninguém é bonzinho, ninguém é mauzinho. Tenho todos os potenciais. Cabe a mim equilibrá-los.
–Quanto de você havia no "Tião" e quanto há em "Hitler"?
–Tanto faço um Tião Galinha, envolvido com a necessidade de ter um pedaço de terra, simples e puro, como o ditador que deflagrou um movimento e mudou a cara do mundo, quer queira, quer não. Mas eu queria uma outra imagem, a do homem. Ao mergulhar na alma, no homem, eu teria uma visão mais abrangente, sem negar a visão do carrasco.
–Você foi para o SBT. Algo te incomodava na Globo?
–Uma das razões talvez tenha sido uma pinimba entre eu e um executivo da Rede Globo, cujo nome acho desnecessário dizer, em relação ao teatro. Sempre que havia uma proposta de renovação do contrato, ele colocava como precondição para negociar que a prioridade fosse a televisão. Depois da terceira negociação, eu me neguei a conversar com ele, pedi ao autor da novela que matasse o "Tião Galinha", porque eu viria para São Paulo ensaiar "Uma Rosa para Hitler". Como consequência dessa vinda a São Paulo, fui contratado pelo SBT.
–Você vai fazer "Éramos Seis" no SBT, com estréia prevista para maio. Como será seu personagem?
–Só vou arriscar dizer alguma coisa depois da primeira reunião sobre o assunto.
–Sua ex-mulher é fonoaudióloga e atual é atriz (Vânia Penteado). O relacionamento com uma colega é melhor?
–O relacionamento com Elisabeth, mãe das meninas (Janaína, 15, e Tainá, 11), durou quase 14 anos. Eram profissões muito diferentes. Ela lidava com uma profissão científica. A arte é fantástica, não tem regras. Mas o relacionamento durou, com conflitos e tudo. Depois estagnou. Eu vislumbrei uma nova realidade com Vânia, que também é atriz (ela espera filho para março). Nós falamos a mesma língua.

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