São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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MTV mostra que vantagem leva na hora de cobrir rock ao vivo

MARIA ESTER MARTINHO
EDITORA DO TV FOLHA

Na última edição da Revista da Folha, o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa dizia que o que mais gosta de ver na TV é "qualquer coisa com transmissão direta". Mais que uma opinião pessoal, expressava a compreensão do momento em que a TV se transcende. Ao vivo, até um ônibus cruzando São Paulo é uma sensação. Afinal, o ônibus leva o Vitória para disputar, em poucas horas, a final do Campeonato Brasileiro de futebol. E isto está acontecendo ali, agora.
O toque de Midas da transmissão ao vivo –o mesmo que a Bandeirantes usou naquele domingo, 19 de dezembro de 93– beneficiou, na última semana, a cobertura da MTV da fase paulista do Hollywod Rock. Graças a um acordo comercial com a Souza Cruz, patrocinadora do evento, a emissora teve flashes do festival de 19h a 1h, sexta, sábado e domingo.
Foi um lance de esperteza. Na hora de transmitir ao vivo eventos pertinentes a sua área, a TV segmentada, por menor que seja, leva incrível vantagem sobre a megaconcorrência. Primeiro, porque tem tempo para o tema –o que o público da MTV queria, no último fim-de-semana, além de Hollywood Rock?
Segundo, porque tem conhecimento de causa. Sabe que a designação predileta de Maurício Kubrusly para as subespécies de hard-rock –"rock pauleira"– é insuficiente. No caso da música pop, isto faz um mundo de diferença –ou a Globo não teria se apressado em colocar Thunderbird na cobertura da fase carioca.
São armas simples –mas imbatíveis. Como a absoluta informalidade, que dispensa passagens empoladas e chavões do gênero "a festa não tem hora para terminar". Como o esquema montado para a cobertura: entrevistas de bastidores, VJs no gramado, imagens dos shows.
Com isto –e uma miniTV na mão que parecia gritar "Estamos ao vivo!"– VJs e jornalistas da MTV fizeram a cobertura pop ao vivo mais decente que o público de TV brasile ro já viu.
Não que tenha sido sensacional. Continuamos a milhas do jornalismo editorializado e iconoclasta patenteado pela matriz americana. No gramado, Fabio Massari, Edgard e Gastão preferiram entrevistar um ao outro que o público –ignorado na cobertura.
Mas quem, além da MTV, enfrentaria o Aerosmith para uma entrevista dois minutos antes de seu show? Quem daria o microfone para os Titãs vociferarem contra a organização do festival? Quem estava lá quando Max Cavallera foi detido, depois de pisotear a bandeira nacional no show do Sepultura?
Alguém aí disse Cristina Franco?

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