São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
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Camisinha cara emperra campanhas anti-Aids

DA REPORTAGEM LOCAL

As campanhas de prevenção à Aids no país estão esbarrando no bolso das pessoas: a camisinha brasileira é uma das mais caras do mundo. A observação foi feita por Peter Lamptey, epidemiologista e vice-presidente da fundação norte-americana Family Health. A entidade desenvolve mais de 100 programas de controle e prevenção Àids em 29 países. No Brasil, vários dos seus projetos são dirigidos a prostitutas.
Por trás deste alto custo estão os impostos sobre a fabricação e a comercialização do preservativo. Há mais de um ano o Ministério da Saúde vem pedindo à Receita Federal a isenção de taxas sobre esse produto. A decisão depende da aprovação dos secretários estaduais da Fazenda que estariam dificultando a aprovação. São Paulo está entre os Estados que defendem a isenção de impostos.
Outra dificuldade lembrada por Maria Eugênia Fernandes, representante do Family Health no Brasil, é a obrigatoriedade de os fabricantes de preservativos comprarem látex brasileiroa, mais caro que o produzido pela Malásia.
Segundo Lamptey, o alto custo da camisinha acaba anulando todas as campanhas de prevenção à Aids. Na falta de medicamentos e de vacinas, o preservativo é tido como a única forma de se evitar a doença. Estudo feito por outra fundação norte-americana –a Population Service International– concluiu que a cada 1 milhão de camisinhas usadas, 333 novos casos de Aids são evitados.
A venda de preservativos no Brasil chegou a dobrar em 89 quando um time de artistas apareceu na TV pregando seu uso. Nos anos seguintes, enquanto o número de infectados crescia em escala geométrica, as vendas de camisinha caíam 10% ao ano.
A tendência só foi revertida no final do ano passado, quando as vendas subiram em relação ao ano anterior. Comparado a europeus e norte-americanos, o brasileiro usa oito vezes menos camisinha.
Na visita ao Brasil, Peter Lamptey apresentou a camisinha feminina desenvolvida pelo Family Health e que acaba de ser aprovada pelo FDA, organismo norte-americano que regulamenta remédios e alimentos.

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