São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
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Telê ataca uso político do regulamento do Paulistão

UBIRATAN BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

O descanso de quase dois meses não diminuiu o poder de fogo do técnico Telê Santana. Habitualmente crítico, o treinador do São Paulo (que só reassume o time depois do Carnaval) utilizou as duas horas em que passou no Morumbi, anteontem à noite, disparando contra todos –não perdoou os dirigentes pela má iluminação do estádio, criticou os jogadores que querem exibir algo mais no futebol (como Júnior Baiano e Valdeir) e apontou como justa a derrota do time de juniores, na Copa São Paulo. Sua presença, ainda que temporária, aliviou o técnico interino Muricy: no jogo contra o Ituano, na quarta-feira, Telê praticamente orientou o time por meio de um walkie-talkie, provando que o São Paulo ainda não está preparado para viver sem suas decisões. (Ubiratan Brasil)

Folha - O senhor é favorável ao campeonato de pontos corridos?
Telê - Sou, porque favorece quem realmente investe em trabalho e contratações. Só tem um detalhe que me desagrada e é influência política: se a fórmula der certo, a Federação Paulista vai se vangloriar como a responsável pelo sucesso. Se der errado, o Farah vai dizer que só fez o que os clubes e a imprensa pediram. Eu acho que é o contrário, os clubes é que serão responsáveis pelo sucesso.
Folha - Mas se algum time disparar na pontuação, o campeonato não pode ser um fracasso?
Telê - Pode, mas tem um lado positivo. Se algum time disparar é porque está mais bem preparado que os outros e merece ser o melhor. Isso deve servir como alerta aos adversários. Só não gostei da tabela dirigida no segundo turno. Com isso, a federação vai perseguir os melhores times.
Folha - E como o senhor analisa o São Paulo, que se prepara na sua ausência?
Telê - Está razoável, se pensarmos que o time teve só cinco dias de preparação. Ainda é preciso fazer alguns ajustes. O Júnior Baiano, por exemplo. Ele joga bem, mas não pode abusar. É preciso ter mais seriedade e comigo ele vai ter. Outro problema é o elenco pequeno –por causa disso, tivemos que liberar o Danilo, que é muito jovem, para substituir o Leonardo, no jogo contra o Ituano. Isso não pode acontecer. Precisava ser mais bem preparado, eu queria conversar com ele.
Folha - O senhor lamenta então a saída do Cerezo e a demora na renovação de contrato de Muller e Cafu?
Telê - Claro, porque o campeonato já está se desenrolando. Mas, não me meto em renovações. Queria que o Cerezo ficasse, mas foi bobagem dele querer um contrato de três anos. Um problema que vejo hoje no futebol é o grande interesse por uma compensação financeira. Claro que ninguém quer perder dinheiro, mas os jogadores deveriam levar em conta o ambiente já criado no clube em que estão. E se o novo clube for pior? Fiquei 12 anos jogando no Fluminense. Recebi várias propostas melhores, mas não saí porque gostava de lá. Não se pode colocar as cifras sempre na frente. O São Paulo hoje é o melhor clube brasileiro, pois oferece as melhores condições. O jogador que administrou bem todo o dinheiro faturado com os prêmios está passando muito bem.
Folha - Essa euforia com o sucesso é que derrubou os juniores na final da Copa São Paulo?
Telê - Não posso dizer isso, pois não convivi com eles. Só que não gostei da atuação do time. Claro que a expulsão do Catê atrapalhou tudo. Mas os jogadores do São Paulo estavam apáticos. Por ser uma decisão, tinham que se empenhar mais. Pelo que apresentaram, mereceram perder.
Folha - O senhor condenou também a atitude rebelde do Valdeir, de se impor no time?
Telê - Claro. Aqui só joga quem está bem. Ninguém força sua escalação porque há quem escale o time no São Paulo. Ele só não jogava porque não estava bem.
Folha - E o que o senhor acha do escândalo da arbitragem carioca?
Telê - Uma vergonha. Apenas dois árbitros resolveram contar todos os podres, enquanto a federação tem mais de 70. O futebol precisa seguir o exemplo da CPI do orçamento e apresentar todos os podres. Se eu dirigisse uma federação, apresentaria balanços mensais e liberaria minhas contas bancárias. A Fifa e a CBF deveriam entrar de sola nesse caso e em todas as outras federações.

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