São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
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Prateleiras cheias

O final de 1993 foi atípico para a indústria paulista. Embora o crescimento acumulado ao longo do ano tenha atingido 11,7% frente ao ano anterior, as encomendas do comércio para o período de festas demoraram a chegar. Foi tamanha a intensidade do fenômeno que em vários setores as mercadorias só chegaram às prateleiras em janeiro de 1994.
Desde o início do ano, entretanto, as demissões voltaram a crescer. Em janeiro, segundo dados da Fiesp, já foram cortadas 7.645 vagas. O desemprego maior somado ao repique inflacionário das últimas semanas parecem recolocar a economia brasileira numa trajetória de "estagflação" (estagnação com inflação) que a muitos parecia superada pelo reaquecimento verificado ao longo de 1993. Vale ressaltar que o nível de emprego em dezembro já era na indústria paulista inferior ao de dezembro do ano anterior.
Esse cenário vem sendo confirmado por depoimentos dos próprios empresários. Descontado o fenômeno da reposição acelerada de estoques entre dezembro e janeiro, a atitude predominante é de cautela. Diante da grande incógnita em que se converteu o Plano FHC, ninguém ousa prever a continuidade do aquecimento ao longo de 1994. Para Mario Bernardini, diretor do departamento de economia da Fiesp, "tudo vai depender dos resultados do Plano FHC".
A corrida à poupança é outro fator que deve impedir um aumento das vendas nas próximas semanas. Pelo menos até meados de fevereiro, ficarão fora de circulação cerca de US$ 2 bilhões, aproximadamente o volume captado pelas cadernetas entre os dias 11 e 12 de janeiro, sob o estímulo de rendimentos nominais em torno dos 50%.
Assim, é provável que o resultado combinado da inflação alta, do desemprego maior e da bolha de poupança seja, no curto prazo, uma retração capaz de deixar as prateleiras ainda mais carregadas.

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