São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 1994
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Genival, 13, corta 1,2 ton de cana todo dia

FABIO GUIBU

FABIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM IPOJUCA (PE)

Genival Cândido da Silva, 13, trabalha desde os oito anos no corte da cana-de-açúcar. Sem qualquer tipo de proteção contra acidentes, o garoto inicia sua jornada às 5h e só retorna para casa à tarde, quando faz sua única refeição, feijão, charque e farinha.
Coberto pela fuligem das queimadas nos canaviais, o menino diz que só nos últimos três meses passou a receber pelo trabalho. Da mesma forma que os adultos, ele tem direito a uma remuneração mensal de um salário mínimo, sob a condição de que corte e amarre em feixes pelo menos 1,2 tonelada de cana por dia.
Genival trabalha em companhia do pai, João Cândido da Silva, 56, e da mãe, Terezinha Justina da Conceição, 42. Filho de uma família composta por mais 11 irmãos, o garoto foi obrigado a largar os estudos e há muito tempo não sabe o que é brincar.
"Eu brinquei muito pouco na vida", diz, olhando para o chão, num misto de revolta e consciência de que seu trabalho ajuda no sustento da casa. "Ficar aqui é muito ruim. O serviço é pesado, mas eu tenho que ajudar. O que eu queria na vida era ficar em casa com os amigos e estudar", afirma. Genival e dois de seus irmãos, de 14 e 17 anos, repetem a trajetória de vida de seu pai. João, que também começou a cortar cana ainda menino, com 12 anos de idade, diz que fazia isso somente para ajudar a família a garantir a alimentação.
A mãe do garoto, Terezinha, também o acompanha nas jornadas e teve uma infância parecida com a de seus filhos. Cortando cana desde os nove anos, ela diz que hoje está com problemas de saúde. Reclama de dores nas costas, mas diz que não pode parar. "Quando acaba aqui ainda faço almoço e cuido da casa. Quem disser que passa bem no corte da cana, eu digo que é mentiroso", diz.

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