São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 1994
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Documento destaca violência da polícia

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI

Da Reportagem Local
A Americas Watch elencou em 120 páginas alguns fatores que estariam colaborando para o aumento da violência no Brasil. O mais destacado é a violência das próprias instituições encarregadas de combater o crime.
Ativistas de direitos humanos entrevistados pela Americas Watch dizem que os números de mortes praticadas por policiais caíram porque eles "aperfeiçoaram" suas técnicas, "desaparecendo com as vítimas ou as torturando, em vez de matá-las". Somente em 1992, a Polícia Militar de São Paulo matou 1.470 pessoas, uma a cada seis horas, o dobro dos mortos nas guerras do Oriente Médio. O governo estadual diz que esse número foi reduzido em mais de 50%, em 1993, mas ainda não divulgou os números das mortes.
O relatório da Americas Watch também revela que adolescentes - que a polícia quer "eliminar" mas sem se comprometer com a morte - têm sido vítimas da seguinte técnica: os policiais colocam o menor no banco da frente do carro da corporação, e param próximo a locais de tráfico de drogas. "Isso dá a impressão de que o adolescente é um informante", diz o relatório. Em seguida, informa o documento, o menino é libertado pela polícia e morto pelos criminosos, que acreditam que os menores informaram à polícia sobre suas atividades.
O documento também chama a atenção de todas as autoridades mundiais para as ameaças que os promotores Marco Ferreira Lima e Stella Kuhlmann, da Justiça Militar de São Paulo, sofreram por parte de membros das Rota Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de elite da PM de São Paulo. Um atentado a bomba sofrido por Marco Lima, em sua casa, há três meses, é descrito detalhadamente no documento.
Os dois promotores apuravam denúncias de envolvimento de policiais da Rota em sequestros e assassinatos em São Paulo. Desde o último dia 26, Stella está sendo escoltada por homens da Coordenadoria de Inteligência Policial.
Atesta a Americas Watch que em todos esses casos de violência "há algumas investigações policiais, mas é raro que haja resultados". Dizem ter encontrado no Brasil evidências de cumplicidade oficial e, mais comumente, omissão.
(CJT)

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