São Paulo, sábado, 1 de outubro de 1994
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Enéas admite faltas e ataca a Folha

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

O candidato do Prona à Presidência, Enéas Carneiro, confirmou ontem que durante nove anos pagou outro médico para cumprir seus plantões no Hospital da Lagoa, órgão do Inamps localizado na zona sul do Rio.
"Num sistema apodrecido como este, é difícil ter uma atitude perfeita permanentemente", disse Enéas, que admitiu também ter usado um hospital estadual para ministrar seu curso particular de eletrocardiografia.
O candidato afirmou que mantém seus empregos públicos para contar tempo para sua aposentadoria profissional. Para ele, isso é uma forma de "compensação".
"Trabalhei desde os 9 anos, mas não posso documentar tudo. É justo chegar ao fim da vida e jogar tudo fora apenas para cumprir um dispositivo legal? É apenas uma compensação", disse.
Na entrevista, Enéas disse que a Folha é "um jornal do PT que não elege ninguém".
O candidato prometeu, caso seja eleito, não começar seu governo punindo os médicos que adotam procedimentos semelhantes ao seu.
"Não se começa assim. Está tudo errado nesse sistem anárquico. É preciso que exista ordem em todos os níveis", disse.
Enéas afirmou que repassou seus vencimentos integralmente ao médico Antônio Manoel Oliveira Neto, que cumpriu seus plantões no Hospital da Lagoa (zona sul) de 81 a 90.
"Não dou prejuízo ao erário público. O maior dos roubos é a atitude dos vendilhões da pátria. Esse é que tem que ser corrigido. O que eu fiz foi com a anuência da direção do hospital", afirmou.
A Folha apurou que a situação irregular de Enéas era de conhecimento da direção do hospital.
O candidato comparou sua ação à dos dentistas que cobram valores menores por consultas sem nota fiscal, numa forma de burlar o imposto. "Você não vai querer prender 90% dos dentistas, vai?"
Segundo Enéas, seu consultório particular só trabalha emitindo notas fiscais. "Não é que eu seja santo, é que nós atendemos a maioria das pessoas por convênio e isso só mediante nota fiscal", disse.
O candidato admitiu também que usava o Instituto Estadual de Cardiologia Aloísio de Castro para dar aulas de seu curso."Era um acordo meu com o diretor", disse.

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