São Paulo, sábado, 1 de outubro de 1994
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Combustível para Fernando Henrique

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Em entrevista ontem à Folha, o presidente Itamar Franco desferiu um duro golpe na já combalida candidatura Lula. Disse que, na próxima semana, anuncia a redução dos preços dos combustíveis –o gás, produto de consumo popular, pode cair até 5%.
É mais um ingrediente para compor o clima de desânimo na cúpula do PT, onde já se vê como miragem a chance de virada. Para os responsáveis por pesquisas de opinião, a miragem chega a ser até uma visão otimista: todos apostam no fim da eleição na segunda-feira.
Os levantamentos reservados que chegavam ontem à coordenação de campanha de Fernando Henrique Cardoso apontam aumento ainda maior da diferença em relação a Lula e aos demais candidatos. Agora, beira os 10%.
Apesar do sucesso dos comícios de Lula, de seu crescimento em determinadas capitais e em grupos formadores de opinião, compôs-se nessa reta final um perverso coquetel. Fernando Henrique recebeu a ajuda de seus amigos –e o anúncio da queda dos preços dos combustíveis é um eloquente exemplo. E, mais, recebeu ajuda de seus inimigos.
Ao mesmo tempo em que o governo alardeia a inflação de 1,5%, consciente de seu impacto eleitoral, sindicatos decretam greves –greves que passam a sensação de desordem e oposição ao Plano Real, projetando imagem negativa no PT, ligado à CUT.
PS – A entrevista de Itamar Franco à Folha é digna da nota máxima do patômetro. Ele disse que não adota agora a redução do preço dos combustíveis porque a medida seria vista como eleitoreira; prefere esperar o fim das eleições. Isso como se o anúncio não tivesse impacto eleitoral. Seu objetivo, na verdade, é criar mais um fato para que lhe atribuam parte da responsabilidade pela vitória de Fernando Henrique no primeiro turno. Até porque, depois de segunda-feira, caso mesmo as pesquisas se confirmem, o país já terá dois presidentes –e, um deles, com muito menos importância.

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