São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Indexação dos salários preocupa equipe econômica

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Concluídos três meses de Plano Real, não é o aquecimento do consumo que preocupa a equipe econômica e os economistas que, fora do governo, aprovam o programa. O que os preocupa é a correção automática de salários pelo IPC-r.
Pode-se esperar que a equipe vai tentar alguma saída para eliminar essa indexação oficial, que não constava da proposta orginal do plano. Foi acrescentada no Congresso, por pressão dos parlamentares. Hoje, membros da equipe acham que o estrago da reposição salarial automática é o principal problema do real.
Pela lei, toda categoria de trabalhadores tem direito, na primeira data-base após o plano, a uma reposição salarial equivalente à inflação medida pelo IPC-r, a partir de 1º de julho.
Assim, até julho de 95, todo mês haverá reposições salariais automáticas e crescentes. Além disso, o IPC-r, medido pelo IBGE, vem alto porque carrega resíduos de inflação em URV e cruzeiro real. Até julho de 1995, portanto, os salários estarão indexados a uma inflação que o real eliminou.
Trata-se de um corpo estranho num programa de estabilização que tem o objetivo de desindexar a economia, ou seja, de eliminar a memória inflacionária.
Segundo o ex-ministro Mailson da Nóbrega, é preciso desarmar essa armadilha. Especialmente porque, diz ele, logo haverá mais reivindicações por reajuste mensal –e isso seria o fim do plano.
Entre membros da equipe econômica havia a idéia de que o reajuste, único para cada categoria, e escalonado ao longo de um ano, não traria grande problema. Hoje, acham que é problema.
A equipe foge do assunto. Preferem não tratar da indexação dos salários, mas dizem que a lógica do plano é a desindexação.
Só que a desindexação dos salários é um enorme problema político. Não se poderá simplesmente extinguir a regra. As categorias que já tiveram o reajuste –aquelas com data-base em julho, agosto, setembro e outubro– ficariam em vantagem sobre as demais.
Será preciso, portanto, algum tipo de equalização. Uma alternativa, talvez a única, é dar um reajuste para todas as categorias que ainda não tiveram e aí eliminar a regra da indexação, passando os salários para o regime de livre negociação.
Assim, por exemplo, as categorias com data-base de novembro a junho teriam reajuste em 1º de novembro, conforme o IPC-r de julho até ali. Seria um impacto de uns 15% na massa salarial, mas único.
É um impacto forte, mas a questão é decidir o que é menos ruim: de uma vez ou ao longo de 12 meses. Não há decisão na equipe econômica. Mas a sensação de que será preciso fazer alguma coisa.

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