São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Brasileiro pode comprar "risco Brasil"

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Acredite no Brasil, mas usando os mesmos instrumentos do investidor estrangeiro."
Esta frase de Eduardo Vassimon, diretor da área internacional do BBA Creditanstalt, define o que são os novos fundos de aplicação em títulos da dívida externa.
Estes títulos são negociados no mercado secundário de Nova York e em Londres, com desconto sobre o "valor da face". Este desconto equivale ao grau de desconfiança com que é visto o país pelo investidor estrangeiro. Ele reflete o que se convencionou chamar de "risco Brasil".
O rendimento é em dólar. Mas a aplicação é feita no Brasil, em reais. Conforme o banco, a aplicação mínima exigida varia. A menor, de R$ 10 mil, é do Bradesco.
A tributação é a mesma que incide sobre o fundo de commodities –de 25% sobre o que superar a variação da Ufir (Unidade Fiscal de Referência).
O novo fundo "não é um produto de varejo. É mais sofisticado", diz Walter Brasil, diretor de investimentos do Unibanco.
Os executivos ouvidos pela Folha são unânimes ao apontar três razões para se aplicar no novo fundo: 1) diversificação de investimentos (no caso investimento legal no exterior); 2) provável ganho de capital no médio prazo; 3) retorno elevado, em dólar, para aplicações de longo prazo.
Logo, este não é um fundo para abrigar recursos que poderão fazer falta no dia-a-dia. Deve ser visto como uma alternativa "que tem riscos e é de renda variável", conforme Deiwes Rubira de Assis, diretor do ING Bank, que é a instituição mais atuante no mundo neste mercado de títulos brasileiros. Este ano, entre janeiro e setembro, o ING girou um volume de US$ 37 bilhões neste mercado.
O ganho de capital previsto para o médio prazo pode ter duas origens. A primeira é que está se apostando "na valorização do dólar em relação ao real". Ou seja, a atual paridade (R$ 0,85 compra US$ 1,00) não se mantém no médio prazo, com o real se desvalorizando.
Outra possibilidade de ganho é que "o preço do título está no lugar errado", conforme Pedro Bodin, do banco Icatu.
Ou seja, o desconto embute um "risco Brasil" que não mais traduz a perspectiva econômica do país.
Com a continuidade do programa de estabilização "os investidores estrangeiros devem passar a olhar o país com melhores olhos. O que vai criar uma demanda adicional por estes títulos e melhorar o seu preços", diz Deiwes.
No longo prazo, caso o país dê certo, a perspectiva de ganho é ainda melhor.
O investidor terá comprado um papel com desconto –um desconto que previa um determinado "risco Brasil"– mas vai resgatar o título, no seu vencimento, pelo "valor de face".
Em dinheiro, imaginando uma inflação nos EUA de 3% ao ano nos próximos 29 anos, significaria aplicar hoje R$ 50 mil e receber US$ 1,5 milhão.
O fundo de investimento em títulos da dívida funciona, neste caso, como um plano de aposentadoria em moeda forte (o dólar).
O risco que se está comprando é o Brasil. Se o país der errado, o rendimento pode, no limite, ser negativo.

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