São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vírus da Aids símia pode recuperar malignidade

PHYLLIDA BROWN
DA "NEW SCIENTIST"

Pesquisadores britânicos descobriram que o vírus que causa Aids em macacos é capaz de se converter de uma forma fraca a uma maligna em questão de semanas, "consertando" um minúsculo fragmento de material genético. É a primeira vez que alguém mostra que o vírus possui essa capacidade.
Os cientistas, do Conselho de Pesquisas Médicas, anunciaram suas descobertas há duas semanas em um congresso anual de Aids, em Manchester.
Eles contaminaram macacos com a forma enfraquecida de SIV, o equivalente do HIV nos macacos. O vírus fraco tem um trecho muito pequeno de material genético ausente, e parece não provocar a doença.
A descoberta sugere que o fragmento que falta é necessário para que o vírus se torne maligno.
Isso pode ensinar como lidar com o vírus humano: é possível que a determinação de exatamente quais partes do genoma levam o vírus a provocar a doença sugira maneiras de desativá-lo.
No SIV, um fragmento que falta é um gene chamado "nef", que está vinculado à malignidade.
"Este trabalho demonstra que a ausência (desse gene) pode se reverter, e então surge a malignidade", disse Martin Cranage, pesquisador de vacinas contra Aids do Centro de Microbiologia e Pesquisas Aplicadas, em Porton Down.
Ele avisou que a descoberta pode ser específica da forma de vírus utilizada, e que outros cientistas terão que repetir o trabalho para confirmar sua validade.
À primeira vista, a descoberta parece questionar a segurança das vacinas baseadas em vírus vivos, geneticamente alterados.
Após anos de fracassos na busca por vacinas, muitos cientistas vêm dirigindo suas esperanças ao trabalho de Ron Desrosiers, da Universidade Harvard.
Sua vacina experimental é baseada em SIV vivo do qual foram removidos um segmento de nef e várias outras áreas de material genético.
Desrosiers descobriu que sem nef, o SIV não provoca Aids em macacos.
Quando os mesmos animais foram expostos ao SIV em seu estado natural, eles estavam protegidos, e a proteção era muito mais poderosa do que a propiciada por qualquer outra vacina.
Desrosiers acredita que deveria se cogitar em realizar testes de HIV sem nef em seres humanos.
Os cientistas estão profundamente divididos em relação à segurança dessa abordagem: alguns dizem que é a melhor esperança para se desacelerar a epidemia de Aids, enquanto outros temem que o vírus possa reverter a seu estado natural e provocar a doença.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: BRASIL ; EUROPA ; ANTÁRTIDA
Próximo Texto: Astronomia terrestre vive renascimento
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.