São Paulo, quinta-feira, 6 de outubro de 1994
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Pleito de empreiteira gera crise no governo

INÁCIO MUZZI
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Pedido de empreiteira gera crise no governo
Recomposto na semana passada, após ter parte dos pareceres roubados, já está na mesa do ministro da Fazenda, Ciro Gomes, o processo que vai obrigar o governo a decidir se banca ou não os prejuízos de aproximadamente US$ 1 bilhão da Construtora Mendes Júnior no Iraque.
A empreiteira responsabiliza o governo por entender que o prejuízo resulta do rompimento de relações Brasil-Iraque em 1990, em função da Guerra do Golfo.
O dinheiro, suficiente para recuperar 25% da malha rodoviária brasileira, provocou uma guerra de lobbies dentro do governo.
No início de setembro foi arrombado o armário do gabinete do ministro da Fazenda, onde o processo se encontrava. Foram arrancados pareceres e notas técnicas contrários ao pleito da empreiteira.
O episódio chegou ao conhecimento do presidente Itamar Franco, sem que fosse pedida sindicância para investigar o delito. A Folha apurou que o processo foi remontado na quarta-feira.
No mesmo período o lobby da Mendes Júnior chegou ao comitê de campanha de FHC. O coordenador da campanha, Pimenta da Veiga, admitiu ter sido visitado pelo presidente da empreiteira, Murilo Valle Mendes, há 20 dias.
``Ele chegou aqui com um advogado da empresa e disse que queria me falar sobre o processo, já que a decisão deveria ser deixada para o próximo governo."
A defesa dos interesses da Mendes Júnior envolve representantes da empresa, como advogados do peso do ex-ministro da Justiça Oscar Dias Correia, políticos, a direção do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Nordeste. Credores da construtora, os bancos oficiais esperam que o governo pague à Mendes Júnior.
Desde quando o processo começou a tramitar, o presidente do Banco do Brasil, Alcir Calliari, despachou assessores para defender o pleito da Mendes Júnior junto a funcionários encarregados de dar parecer sobre a matéria.
Em nenhum momento a Mendes Júnior recorreu à Justiça.
No roubo de documentos, à véspera da posse do ministro Ciro Gomes, teria desaparecido o parecer do procurador da Fazenda, Edgar de Proença, que desconsidera a existência de base jurídica para que a União reconheça a dívida.
Outra peça desaparecida seria uma nota técnica da Secretaria de Orçamento alegando que, por dispositivo constitucional, o pagamento só poderia ser feito mediante decisão judicial ou lei específica aprovada pelo Congresso.
A Procuradoria da Fazenda, a Consultoria Jurídica da Seplan e a Advocacia Geral da União já haviam se manifestado favoráveis a que a pendência fosse resolvida na Justiça. Em seguida à decisão de Ciro Gomes, o processo receberá novo parecer da Advocacia Geral da União. Itamar pode chamar si a decisão final.

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