São Paulo, quinta-feira, 6 de outubro de 1994
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Falta ousadia

CARLOS SARLI
SUCO DE LARANJA COM ACEROLA. ``WHAT THE HELL IS ACEROLA?"

Enquanto levei três minutos para explicar o que é acerola, Joel Cooper, o presidente da Gotcha, maior surfwear do mundo, não precisou de mais de cinco minutos para explicar a trajetória de sucesso retumbante da marca.
Com a objetividade que aprendeu no mundo do `business', Joel contou que namorava a irmã de um dos surfistas mais importantes da década de 70, Michael Tomson, da África do Sul.
Os dois se tornaram amigos e um belo dia Michael lhe contou que havia sido convidado para abrir uma representação da Quiksilver, marca que lhe patrocinava como surfista.
Joel respondeu imediatamente. Pra que? Vamos fazer nossa própria marca. Em cerca de dez anos a Gotcha conquistou todo o mundo.
A fórmula utilizada foi simples: usar o surfe como marketing principal nos anos 80, quando o esporte era um dos fatores determinantes do modo de vida dos jovens, e manter um olho e alguns dólares em outros esportes, tribos e tendências.
A mesma percepção em doses calculadas foi aplicada no produto, e mudou o rumo dentro do surfe.
Quando todo o mundo estava deslumbrado, com as manobras mirabolantes dos competidores nas ondas pequenas dos campeonatos, a Gotcha patrocinava o inventor dos ``aerials", Martin Potter.
Mas, sem que ninguém soubesse, já investia pesado num garoto de 16 anos que gostava de ondas grandes e de viajar por aí. Esse garoto, chamado Brock Little, é hoje um dos maiores ídolos do esporte.
Quando Tom Curren, o menino bonzinho dos EUA, era o padrão de comportamento, a Gotcha apostava nos cabeludos e tatuados ``bad boys" como Matt Archibold e Dino Andino.
Hoje, quando até o Pato Donald posa de garoto mal, a Gotcha investe num garoto de boa família, que estuda e se comporta bem, chamado Rob Machado.
A contramão consciente se chama ousadia. No recém-lançado livro do publicitário Júlio Ribeiro, uma frase ilustra bem essa idéia: ``Em toda minha experiência, vi mais empresas fecharem por falta de ousadia do que por excesso".
Joel Cooper esteve no Brasil promovendo uma reengenharia rápida em seus negócios no país. É provável que a sua atuação voltada para a modernidade ajude a recolocar o surfe numa curva ascendente.

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