São Paulo, sábado, 15 de outubro de 1994
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'Delirei por causa da fome'

DA REPORTAGEM LOCAL

Para os dois rapazes, o momento de maior desespero aconteceu na segunda noite dormida na serra do Mar.
``Foi nessa hora que percebemos que não seria fácil encontrar o caminho de volta. Foi a única vez que chorei durante os 18 dias", conta Lauro.
``A noite do primeiro dia já tinha sido muito difícil porque fazia muito frio e não dava para enxergar nada. Mas desespero mesmo só bateu no segundo dia", diz Alex.
Durante os seis primeiros dias, os rapazes dormiram em pedras no meio do riacho para se proteger dos animais.
``Nas primeiras noites, não dava para dormir porque havia o risco de cairmos no rio. Dava no máximo para cochilar. Além disso, o barulho dos bichos fazia qualquer um ter pesadelos", diz Alex.
No quinto dia sem comer, os dois já não tinham forças para continuar procurando a saída e Lauro começou a delirar.
``Vi uns homens vestidos de branco perto da pedra, mas o Alex estava bem e me ajudou. Quando batia o desespero nele, eu tinha que tirar forças lá do fundo para não desistir de tudo e foi assim que a gente conseguiu sobreviver", afirma Lauro.
No sexto dia, eles decidiram fazer um esforço final e subiram o rio na esperança de encontrar caçadores ou outras pessoas que estivessem percorrendo trilhas por perto.
``Depois de andar umas cinco horas sem parar já não aguentava mais ficar em pé. Foi aí que o Alex encontrou a primeira cabana com cobertores e comida que terminou salvando as nossas vidas", diz Lauro.
``Na cabana tinha um pacote de sopa, arroz, feijão, um fogão de duas bocas e um botijão de gás. Fiz a sopa e foi a melhor refeição que já fiz na vida", conta Alex.
Durante três dias, os dois saíam cedo para tentar achar a saída e só voltavam quando escurecia. Só se alimentavam pela manhã, com um pouco de feijão e arroz.
``Uma das piores lembranças que tenho é de ter que abrir caminho com as mãos. À noite, elas ficavam todas inchadas por causa da quantidade de espinhos. Eu continuo sentindo as dores até hoje", diz Lauro.

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