São Paulo, sábado, 15 de outubro de 1994
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Hospitais ignoram custo de seus serviços

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os hospitais brasileiros, públicos e privados, não sabem quanto custam seus procedimentos e serviços. Esta é a principal conclusão de um estudo de 200 páginas elaborado pelo Banco Mundial.
Cirurgias, por exemplo, são cobradas a partir de cálculos administrativos e não por custos reais. Sem conhecer os custos hospitalares, não há como controlar fraudes nem a ineficiência dos serviços.
O estudo sobre a Saúde no Brasil foi apresentado ontem em São Paulo em seminário promovido pelo banco e pelo Instituto para o Desenvolvimento da Saúde (IDS).
``O país sabe quanto gasta em Saúde, mas não conhece os custos. Assim é impossível saber quanto se desperdiça e quanto se perde com a ineficiência", diz a economista norte-americana Maureen Lewis, que coordenou o estudo. Também não é possível planejar e administrar racionalmente.
Dez pesquisadores brasileiros participaram do levantamento ao longo de três anos. O objetivo principal era entender a política de financiamento da Saúde no país e contribuir para melhorá-la.
No Brasil, depois da Previdência, a Saúde é a principal fonte de gastos públicos. ``A estabilidade econômica depende do ajuste dos setores Saúde e Previdência", diz o economista Roberto Iunes, diretor do IDS e professor da USP.
Segundo o estudo, o país gasta pouco e mal em Saúde. Em 93, União, Estados e municípios gastaram US$ 11,3 bilhões, o equivalente a US$ 74,02 por habitante. Equivale a 50% do que investe o Uruguai e dez vezes menos o que gastam países do Primeiro Mundo.
O problema é que parte destes gastos se perde com fraude e má administração. ``O Estado quer prestar serviços, quando deveria se concentrar em sua função de regular", diz André Médici, participante do estudo e membro do IDS.
Para Raul Cutait, um dos fundadores do IDS, a Saúde no país precisa de financiamento, gerenciamento e vontade política. ``Se o governo não for capaz de segurar as pressões, não conseguirá priorizar a Saúde", diz.
``No Brasil, a falta de transparência nos gastos públicos permite fraudes e impede um uso mais eficiente do dinheiro", diz Alain Colliou, chefe da divisão de recursos humanos do Banco Mundial.
Depois de debatido e detalhado, o estudo será encaminhado ao presidente eleito Fernando Henrique Cardoso. ``Subsidiar os vários níveis de governo é um dos objetivos do IDS", diz Cutait.
O IDS é uma entidade não-governamental voltada para a Saúde. O seminário foi o primeiro evento promovido pela ONG, criada na semana passada por médicos e empresários.

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