São Paulo, sábado, 15 de outubro de 1994
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Partidos se adequam à época

LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES

Apesar da continuidade da fragmentação partidária, da sobrevivência de antigas lideranças e da permanência do PMDB e do PFL como os principais partidos no Congresso, entendo que, no cotejo entre os elementos de mudança e os de continuidade, os primeiros superam os segundos.
Obviamente, não houve ``a radical transformação" desejada por alguns. Mas dificilmente poderia ser de outro modo. Somente em situações revolucionárias, elites e sistemas políticos podem ser eliminados de um só golpe.
Nas competições democráticas, a renovação da classe política costuma se efetuar de modo menos drástico e mais gradual. Se queremos a democracia, devemos nos acostumar com isso e aceitar que os políticos tendam a ter vida longa e que, algumas vezes, possam ressurgir vitoriosamente quando menos se espera.
No caso das eleições de 3 de outubro, um prognóstico dos seus efeitos sobre nosso sistema político implicaria tomar vários ângulos de análise em virtude do desencontro entre os resultados nas disputas para a Presidência da República, para os Estados e para o Congresso.
Por um lado, há a questão das lideranças derrotadas na competição para a Presidência e para os governos estaduais. De outro, há a questão da performance dos diferentes partidos para a Câmara e para o Senado. Apesar disso, e de modo sumário, pode-se apontar alguns fatos que sugerem alterações significativas no status quo político.
No tocante à pessoa dos líderes, seria insistir no óbvio falar no papel central que assume Fernando Henrique e na consolidação de Lula como a principal liderança oposicionista.
As humilhantes derrotas de Brizola, Quércia e Amin abrem espaço para a ascensão de novos dirigentes no interior de seus próprios partidos.
Há também a surpreendente votação de Enéas, que só o futuro poderá dizer se se trata de um fenômeno passageiro ou de uma tendência mais consistente capaz de se consolidar como expressão de um autoritarismo que sai, desta feita, do interior da própria sociedade civil.
Assim, apesar do fato de Sarney, Maluf e outras importantes lideranças terem escapado do naufrágio, apenas no que diz respeito às pessoas dos dirigentes houve reajustamentos que alteram as posições dos partidos no mapa político brasileiro.
No tocante aos partidos também é possível detectar novas tendências. Mas aqui a análise deve ser mais matizada porque há fortes discrepâncias entre, de um lado, os resultados partidários para os governos estaduais e, de outro, para o Legislativo.
Assim, por exemplo, o PMDB e o PFL mantiveram suas posições de primeiro e segundo partidos no Congresso. Contudo, tiveram medíocres resultados nas disputas para os executivos estaduais, fato que atua no sentido de reduzir seu poder de barganha no interior do próprio legislativo federal.
No balanço final, entendo que o PSDB deve ser considerado como o principal vencedor e o PPR como o principal perdedor.
A expansão tucana, ao lado do crescimento do PT e do declínio do PPR e, em menor medida, do PDT, são indicações de que alguma coisa já mudou no quadro político nacional e de que outras mudanças mais profundas devem vir.
No conjunto, elas sugerem o declínio da direita e da esquerda tradicionais em favor de novos partidos e forças políticas estruturadas em torno de parâmetros ideológicos mais adequados à época presente.

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