São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Gabeira quer criar uma `frente' para salvar o Rio

Deputado eleito quer debater a violência e as drogas

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

O jornalista Fernando Paulo Nagle Gabeira, 53, será o único representante do Partido Verde na nova composição da Câmara dos Deputados. Mas ele não vai, como se poderia supor, dedicar sua atuação política unicamente às questões da Amazônia ou da Mata Atlântica.
Pretende criar, junto aos demais deputados fluminenses, uma ``frente emergencial" para propor soluções para os problemas do Rio de Janeiro, principalmente a violência.
Militante da luta armada durante o governo militar, ex-exilado, candidato ao governo do Rio em 86 e à Presidência em 89, Gabeira fez o que chama de campanha ecológica e econômica.
Gastou cerca de US$ 10 mil, percorreu o Estado em uma ``bicicleta de som" e só usou papel reciclado para conquistar cerca de 35 mil votos, ``fora a fraude". Agora, quer debater a violência, a miséria e as drogas.
A seguir, a entrevista que deu à Folha:

Folha - Sua eleição se deveu mais aos seus méritos pessoais ou à aceitação das propostas do Partido Verde?
Fernando Gabeira - Não saberia precisar exatamente. Mas pude observar que os eleitores são pragmáticos. Votam em algumas bandeiras específicas, como, no meu caso, numa nova política de drogas e no fim do serviço militar obrigatório. Mas acho que também houve um reconhecimento do meu passado político.
Folha - Como seria esta nova política de drogas?
Gabeira - O que surge com mais urgência nesta política é a descriminalização da maconha. Mas ela passa também pela luta contra a violência nas grandes cidades e pela reestruturação da polícia.
Folha - Qual será a linha de sua atuação na Câmara?
Gabeira - Vou trabalhar pelo reconhecimento da situação emergencial do Rio de Janeiro. É preciso compreender que o Rio existe a partir de seus problemas e que o Brasil existe a partir dos problemas do Rio.
Isto significa que deverá haver um esforço concentrado para se criar uma frente supra-partidária na bancada fluminense, em diálogo permanente com o novo presidente, para se criar uma agenda comum. Esta agenda contemplaria, além da questão da segurança, também a saúde, a miséria e o desemprego.
Folha - Estas são as questões prioritárias?
Gabeira - No caso do Rio, além da violência há também o colapso completo do sistema de saúde pública. Eu também associo a luta ecológica à luta contra a miséria. Neste cenário destaco como exemplo positivo o trabalho de recuperação da baía de Guanabara.
Folha - Qual sua avaliação para a infinidade de fraudes detectadas na apuração no Rio?
Gabeira - O sentimento é de indignação, não porque nos tiraram votos –constatei irregularidades em muitos boletins de apuração–, mas porque não foi respeitada a vontade popular. Esta situação demonstra que o banditismo se revela em segmentos muito diversos da sociedade. A crise é mais profunda do que se supõe.

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