São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994 |
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Partidarismo incomoda presidente da UNE
RODRIGO LEITE
Fernando Gusmão, 26, mantém as idéias de seu antecessor, o deputado federal eleito Lindbergh Farias (PC do B-RJ), que ficou famoso na época das passeatas. Como Lindbergh, Gusmão também é militante do PC do B, partido de extrema esquerda que domina a maioria das entidades estudantis brasileiras. Diferente do ex-presidente da UNE, o atual viu diminuir o número de estudantes nas passeatas –de cerca de 100 mil alunos à época do impeachment para 5.000 estudantes em sua primeira passeata, em 11 de agosto de 93. Um ano e três meses após a posse, Gusmão admite que sua tarefa mais difícil foi exatamente atrair os estudantes. Afirma que a UNE vive seu auge e que tem prestígio junto às autoridades e à opinião pública. Contraditoriamente, só 4% dos universitários da cidade de São Paulo consideram sua gestão ótima, segundo o Datafolha. Enquanto ele acredita que a entidade se aproximou dos estudantes, o mesmo levantamento aponta que 64% dos entrevistados consideram a UNE distante de seu cotidiano. Gusmão é pernambucano e está matriculado nos cursos engenharia elétrica e economia na Universidade Federal de Pernambuco. Por conta de suas atividades, abandonou a escola e adotou como base São Paulo (mora na casa da namorada, Marcela), mas viaja a maior parte do tempo. Para sobreviver, recebe dinheiro da entidade (cerca de R$ 200,00 mensais, segundo ele) e de sua mãe. Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu na sede da UNE, em São Paulo. Folha – Você concorda que muitos estudantes não se sentem representados pelas entidades? Fernando Gusmão – Para conseguir representar o estudante, a entidade precisa ter uma diversificação muito grande de atividades. De um tempo para cá a distância entre a entidade e a galera diminuiu muito. Folha – Há pouco tempo a UNE recebeu de volta um terreno da praia do Flamengo e negociou a medida provisória das mensalidades. Quais as consequências políticas disso? Gusmão – O caso do terreno foi uma dívida histórica que o Itamar resgatou, não só com a UNE, mas com a democracia no país. Itamar sabe que os estudantes tiveram um papel fundamental para que ele se tornasse presidente. A questão das mensalidades era uma briga que vinha desde 93; acabamos indo para cima do governo. Não dava para ficar raciocinando em função das eleições. Assim tudo ficaria mais difícil para a UNE. Folha – Este tipo de pragmatismo faltava em outras gestões? Gusmão – Predominou durante muito tempo um partidarismo muito grande. Eu acho que ele ainda existe, mas temos conseguido não só vencer, como desmistificar. Uma coisa é você ter um partido político, como eu tenho. O que não pode é a entidade se colocar em função do interesse de um ou outro partido. Folha – Mas não dá para negar que os congressos estudantis são grandes brigas partidárias. Gusmão - Não existe nenhum movimento social em que não existam forças sociais. É uma disputa de idéias. Tanto é que para dar mais representatividade às entidades, desde 89 a composição da diretoria é proporcional ao número de votos de cada chapa. A UNE é uma das entidades mais democráticas do Brasil. O problema maior não é esse, mas o relacionamento entre partidos e entidades. Folha – Você acha que os estudantes estão interessados em discussões políticas? Gusmão – Eu acho que as entidades têm que propor este tipo de discussão. Discutir política é, por exemplo, discutir o problema da produção científica ou o projeto do governo para a universidade. Folha – Há uma rixa entre as executivas de curso (grupos de estudantes de uma área) e a UNE. Por quê? Gusmão – O movimento de área (a designação genérica das executivas) é fundamental para discutir a formação profissional. Mas algumas executivas –a minoria, porém as mais estruturadas–, fazem oposição à UNE. A serviço de quê este tipo de postura, rancorosa e divisionista? O movimento estudantil tem vários foros. Há um foro para discutir a luta política; outro para a organização do movimento estudantil... O movimento de área não pode se confundir. Folha - Você concorda que o pragmatismo das executivas de curso atrai mais gente? Gusmão – Não. É importante fazer as duas coisas: a discussão específica e a discussão geral. Mesmo porque você não resolve o problema do cara na sala de aula se você não resolve também quem impõe projetos à universidade. Texto Anterior: Chegam às lojas CDs com trilhas roqueiras de filmes americanos Próximo Texto: Governo domina as entidades na China Índice |
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