São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
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`Guerreiras do Amor' fazem greve

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Peça: As Guerreiras do Amor
Autor: Domingos Oliveira, a partir de ``Lisístrata", de Aristófanes
Direção: Celso Frateschi
Cenário: Naum Alves de Souza
Figurino: Naum Alves de Souza e Miko Hashimoto
Coreografia: Bia Ocougne
Duração: 1h20
Onde: teatro Tuca Arena (r. Monte Alegre, 1.024, Perdizes, zona oeste de São Paulo, tel. 011/873-3422)
Quando: estréia amanhã, às 21h; quintas e sextas, às 21h, sábados, às 20h e 22h, domingos, às 20h
Quanto: quintas e sextas, R$ 8,00; sábados e domingos, R$ 12,00
Capacidade: 200 lugares
Elenco: Edith Siqueira (Lisístrata), Celso Frateschi (Leônidas), Angela Dip (Helena), Iara Jamra (Diana), Roseli Silva (Cleonice), Dan Stulbach (Timão), Élida Marques (Mirrina), Bia Ocougne (Lampito)
Sinopse: as mulheres de Atenas se revoltam contra a guerra e decidem fazer greve de sexo

Um grupo de mulheres decide entrar em greve. Motivo: a guerra, o conflito interminável entre os homens. Seus homens. Decidem que, havendo guerra, não há amor: greve de sexo. A idéia nasceu na Grécia há 2.400 anos. Renasce amanhã, na peça ``As Guerreiras do Amor", que estréia em São Paulo, no teatro Tuca Arena.
A comédia original foi escrita por Aristófanes, um dos mais importantes autores do teatro clássico grego. A peça estrelada por Edith Siqueira e Celso Frateschi é uma ``comédia erótico-romântica baseada na `Lisístrata' do velho Aristófanes", como aparece na folha de rosto do texto escrito por Domingos Oliveira, ``com o auxílio da bela Rozembaum, Priscilla".
Oliveira foi ao texto grego, mas não se manteve nos limites estritos (ou estreitos) de uma tradução. Nem se trata exatamente de uma adaptação, no sentido em que a palavra é usada normalmente. Há um mote, a idéia central, mas muitos dos pressupostos dramáticos, morais e políticos do grego saíram de cena. ``Lisístrata" foi reescrita.

Comédia
``Tínhamos que passar pela comédia", diz Frateschi, que é ao mesmo tempo um dos protagonistas –junto com sua mulher, Edith– e diretor do espetáculo. ``Os gregos já o faziam; seus festivais tinham três tragédias e uma comédia. O riso trazia o espectador de volta à vida, à realidade."
Celso e Edith montaram um tragédia, ``Áulis", versão de ``Ifigênia em Áulis", de Eurípedes. Fizeram tanto sucesso que ficaram dez meses em cartaz. Um dos espetáculos, em Ribeirão Preto, foi visto por 2.500 pessoas.
Continuaram na Grécia. Resolveram partir para a comédia e, no gênero, Aristófanes. Finalmente, terminaram escolhendo o texto de Oliveira.
O elenco, de 12 pessoas, inclui um grupo de atrizes ``engraçadíssimas", diz o diretor. Roseli Silva, Iara Jamra, Élida Marques, Bia Ocougne e Angela Dip unem-se a Edith-Lisístrata, ``a destruidora de exércitos". Ai dos maridos. ``Não levantarei a saia", diz Lisístrata. Nem abrir a boca podem.
Mirrina, Diana, Cleonice, Lampito e Helena aderem à greve. Os homens choram, gritam, esperneiam, suas ``proeminências fálicas" cada vez mais proeminentes.
Impedem seus maridos, amantes, companheiros, homens de descansar em seus braços. ``Quando os guerreiros chegarem, potentes e viris, estourando de desejo", diz a líder grevista, todas as mulheres ``devem correr e fugir", dizendo ``não dou, agora, nem amanhã. Jamais!" Tudo pela causa.
A guerra entra em crise. E os homens, enlouquecidos, acabam cedendo –como previa Aristófanes– e entendendo –como imagina Oliveira. O brasileiro é mais otimista que o grego, diga-se.
Para Frateschi, ``o texto de Domingos é mais romântico. Ele conseguiu recuperar o estilo da comédia grega, sem perder a fluência. Ele cria personagens, por exemplo, o Alcebíades, e, ao contrário do original, que tem uma visão meio preconceituosa da mulher, seu texto não tem nada de machista."

Cenário
O cenário de Naum Alves de Souza ``trabalha o volume e a pintura, buscando acentuar os figurinos, muito carregados". O Tuca Arena foi dividido pela metade. Duzentas pessoas sentam-se de um lado, enquanto os atores movem-se na outra metade da platéia. O palco, circular, na base do anfiteatro, foi pintado.
``Areia e azul, mar e céu, usei a cor para trazer, em um plano conceitual, a ação para a Grécia. Mas sem adereços que pudessem atrapalhar o plano do palco.
No começo, pensei em colocar uma réplica do Partenon no cenário. Parecia um galinheiro. Tirei", diz Naum. ``A peça de Domingos tem caricaturas que você lê de cara. Os personagens não são divididos. E o espetáculo de Celso manteve a mitologia do teatro, os atores vistos cristalinamente."
Frateschi diz que dirigir, para ele, ``é recuperar o espaço do ator, o meu e dos outros atores em cena". Espera-se que tenha sido bem-sucedido, como foi em ``Áulis", premiado em 1993 como melhor produção teatral do ano.

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