São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1994
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Itamar à solta

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Itamar Franco não pode ser deixado sozinho, duas horas que sejam. Ontem saiu beijando outra modelo, com a fisionomia embevecida, à vista das câmeras de televisão.
Nada contra, mas está claro que a definição da sucessão soltou as amarras do presidente, que vinha contido desde o Carnaval. Ele agora está livre, não só para galanteios.
Depois da modelo foi a vez do eleito, Fernando Henrique. Sem mais, nem menos, Itamar foi para cima do tucano, por conversar por telefone com o presidente americano. Alegou até soberania nacional:
– Enquanto eu for governo, a transição é brasileira. Ela será feita aqui no Brasil. E os entendimentos com o governo americano serão feitos pela nossa chancelaria. Depois, não me cabe responsabilidade.
E foi em frente, atento aos novos modelos no salão.

Papagaio
O presidente apareceu nas redes todas. Um passo atrás, Mário Covas. O tucano virou papagaio, dando sequência à sua estratégia de aproximação com o real, o governo real.

Pacote real
Pode não ser a melhor das estratégias eleitorais, ligar-se ostensivamente ao real –seja pelo presidente à solta, seja pelo ministro à solta ou seja pela sintonia fina do plano.
Sintonia fina que começou grossa, pelo que parece apontar a repercussão do ``pacote" –expressão que não traz boas lembranças, como registra o Opinião Nacional, quarta.
Na CBN, ontem, citou-se que ``consumidor faz cara feia para as novas regras adotadas pelo governo para diminuir as compras". E voltou o tema eleitoral da recessão.
Vicentinho, claro, foi um que falou dela, ontem no Jornal Bandeirantes. Paulo Roberto da Silva, que é da Força Sindical, falou dela na Cultura. E logo o presidente Itamar, sempre ele, reagiu de bate-pronto.
``O presidente Itamar garante que o Plano Real não vai provocar recessão", chamou o Jornal Nacional, em seu estilo voz-do-Brasil. O presidente ``garantiu" mais: que muda o plano, se for preciso.
Itamar está à solta. Pode vir daí qualquer coisa. Da Rússia, Fernando Henrique trata de conter o que pode, dizendo, por exemplo, que ``vai vetar um mínimo de cem reais", manchete os telejornais.
O que, por outro lado, foi mais má notícia para Covas.

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