São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1994
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Comércio dribla falta de crédito

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Grandes redes de lojas já se armam para driblar a decisão do governo de limitar o crediário a três prestações.
Muitas vão utilizar recursos próprios para ampliar o prazo de financiamento ao cliente. E mais: o comércio deve disseminar o uso dos cheques pré-datados.
``As medidas do governo não terão efeito sobre o crédito. As lojas vão bancar financiamentos em prazos mais longos", diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo.
A rede de lojas Arapuã, por exemplo, decidiu ontem que vai financiar com recursos próprios a venda ao consumidor. O prazo de pagamento e a taxa de juros ainda não foram definidos.
Ponto Frio e Mappin vão seguir o mesmo caminho. A Folha apurou que a maioria das grandes redes de lojas aposta também no cheque pré-datado –os prazos devem superar três pagamentos.
Na Arapuã, a venda pelo crediário representa de 50% a 60% da sua receita e é financiada pelo Banco Nacional. ``A estratégia é não deixar estes percentuais caírem", diz João Alberto Ianhez, diretor.
A empresa já trabalha com cheque pré-datado (em até três vezes). Deve manter a forma de pagamento e o prazo. ``Se vamos ter financiamento próprio não precisamos ampliar prazo de pré-datado."
No Mappin, a idéia da diretoria ontem era a de entrar no financiamento próprio. Também se falou em ampliar prazo de cheque pré-datado –hoje dividido em dois cheques.
``Estamos definindo estratégias", diz Sérgio Orciuolo, diretor. Segundo ele, há 15 dias a venda a prazo vem perdendo força por causa das altas taxas de juros.
Depois do Real, a participação do crediário na receita da empresa pulou de 18% para 25%. Já caiu para 20%.
A venda com cartão representa 20% do faturamento do Mappin. Os cheques pré-datados e o pagamento à vista participam com 60%.
``Pode ser mesmo que o pré-datado volte com força, especialmente nas lojas que não trabalharem com financiamento a longo prazo", afirma Orciuolo.
A diretoria da rede de lojas Ponto Frio se reuniu ontem em São Paulo para traçar planos que objetivam não perder clientes (50% da receita da empresa vêm da venda a prazo). A primeira ação foi suspender o consórcio, lançado recentemente.
``É claro que a medida de restrição ao crédito terá impacto negativo nas vendas. Mas temos planos para manter o consumo ativo", diz Sérgio Giorgetti, diretor.
A diretoria da Casa Centro informa que, por enquanto, não planeja operar com financiamento próprio. A rede de lojas trabalhava com crediário de até 13 pagamentos.
Só que a maioria dos clientes da Casa Centro compram em duas ou três vezes. ``De qualquer forma estamos estudando quais ações que vamos tomar", diz Heraldo Infante, diretor.
A loja da G. Aronson da rua Conselheiro Crispiniano, localizada no centro de São Paulo, sentiu ontem o efeito das medidas do governo. Até o início da tarde de ontem a loja só vendeu produtos de baixo valor.
``Só estão saindo miudezas. A venda caiu muito", diz Élcio Alvarenga Campos, gerente.

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