São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1994
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James Brown se intitula `o pai do rap'

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O cantor e compositor norte-americano James Brown, 66 (ou 60, segundo o próprio Brown), faz quatro megashows durante o Free Jazz Festival.
``Vai ser uma grande festa, uma verdadeira orgia sonora", disse Brown em entrevista à Folha anteontem, por telefone, de Atlanta, na Geórgia, onde mora e tem a própria empresa de espetáculos. ``Minha máquina de sexo (``Sex Machine" é o título de um dos grandes sucessos de Brown do início dos anos 70) está mais azeitada do que nunca!"
Para cumprir a promessa, chega ao Rio de Janeiro na próxima segunda-feira, às 7h40, num vôo Varig vindo de Atlanta, acompanhado por 35 pessoas.
São 18 músicos, seis bailarinos, a mulher, Adriane, um camareiro, um segurança e, para não perder o costume, o mestre de cerimônias –aquele sujeito que tem um dos melhores empregos do mundo e cuja única obrigação é anunciar no início do espetáculo: ``Agora, com vocês, o papa do soul, James Brown! (eco)"
Serão dois shows nos espaços tradicionais do Free Jazz e dois extras ao lado da banda de jazz rap Digable Planets (dia 28 no Velódromo da USP e 29 no Metropolitan do Rio).
Só há ingressos disponíveis para os shows extras. São cerca de 3.000 para o Velódromo (que tem capacidade para 6.500 pessoas) e 5.000 no Metropolitan (capacidade: 12 mil espectadores).
O espetáculo é o mesmo que levou uma multidão ao Radio City Music Hall em Nova York em março e 20 mil a um estádio em Kansas na última semana. Brown entra com a corda toda e desfila seu rosário de hits.
Brown visita o Brasil pela terceira vez. A primeira foi no início dos anos 70. A segunda, em 1988. Fez apenas uma exigência: ninguém poderá se aproximar dos camarins. Ele se hospeda no Rio no hotel Intercontinental. Chega a São Paulo no dia 26 e se hospeda no hotel Maksoud. Na segunda-feira mesmo, faz uma coletiva de imprensa no hotel Nacional, com horário a ser definido.
Ele é responsável pela profissionalização do músico negro pop. Fanático por trabalho, foi um dos primeiros artistas a se dar conta de que devia controlar todo o processo de produção de show e discos. Criou um marketing próprio para sua imagem de fauno rebelde das pistas.
Brown fala por slogans, criados por ele próprio nos anos 60. São frases de efeito usadas no show. ``O público brasileiro é maravilhoso porque tem alma (``soul"). Me lembro da primeira vez que cantei em São Paulo e foi uma grande festa. O público é quente e afetuoso. Não vejo a hora de chegar e começar a agitar. Todo mundo vai dançar e cantar. Amo você, Brasil!"
Outro motivo do entusiasmo de Brown está na mulher brasileira: ``As garotas do Brasil são as melhores do mundo, isso eu garanto!"
O ``papa do soul", como é conhecido, autor de mais de 800 canções compostas a partir de 1950, diz se sentir muito bem participando de um festival de jazz e dividindo o show com uma banda de rap. ``O que eu faço é jazzístico, música negra americana. Eu acho ótimo tocar com um grupo de rap porque, afinal de contas, eu inventei o rap. Eu sou o pai do rap. Criei o gênero em 1965, com `Cold Sweat' e mais uma porção de outras músicas que misturam balanço e palavras."
Brown explica que vê com bons olhos a utilização de ``samples" com composições suas pelos rappers. ``Gosto particularmente do gangsta rap, que diz coisas que eu sempre disse a respeito da condição do negro norte-americano. Os gangsta-rappers são pessoas boas que ainda não encontraram o melhor meio de expressão. Deve ser por isso que gostam tanto das minhas músicas e das minhas roupas, da moda que eu lancei."
Brown tem uma ficha policial das mais ricas. Já foi acusado de agressão e preso em 1989. Desde então, tem realizado um trabalho filantrópico. Sustenta uma fundação para os meninos de rua da Geórgia. ``Acho que não há cara mais preparado para esse trabalho filantrópico do que eu", conta. ``Eu vivi o que essas crianças estão vivendo e quero prepará-las para terem orgulho de serem o que são. Como eu."

Show: James Brown e orquestra (show oficial)
Quando: dia 25 no Rio e dia 27 em São Paulo
Onde: Hotel Nacional, no Rio, e Palace (av. dos Jamaris, 213, 011/531-4900, Moema, zona sul de São Paulo)
Quanto: ingressos esgotados

Show: James Brown e Digable Planets (extras)
Quando: dia 28, às 21h, em São Paulo, e 29 no Rio
Onde: Velódromo da USP (Cidade Universitária, Butantã, zona oeste de São Paulo) e Metropolitan (av. Ayrton Senna, no Shopping Via Parque, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 20,00 no Velódromo da USP; R$ 22,00 (pista) e R$ 50,00 (camarote) para o Metropolitan.

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