São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1994
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Cassandra Wilson mostra fusões acústicas no auge de sua carreira

A cantora americana Cassandra Wilson

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mel Tormé não vem mais ao Free Jazz. Mas os sortudos que já compraram ingressos para os shows de amanhã (no Palace, em São Paulo) e domingo (Hotel Nacional, no Rio) não devem nem pensar em devolvê-los.
Além de ouvir a voz emocionante de Abbey Lincoln e o piano de Cristóvão Bastos, terão a chance de conhecer ao vivo Cassandra Wilson –a grande revelação do jazz vocal na última década.
A cantora e compositora norte-americana de 36 anos deve estar excitadíssima com essa viagem de última hora ao Brasil. Em julho último, durante o Montreux Jazz Festival, na Suíça, Cassandra declarou à Folha sua ansiedade por conhecer o país do samba e da bossa nova.
``Eu sempre adorei a música brasileira. Ela tem uma força, uma energia, um sentido que se conecta diretamente com a espiritualidade africana. Isso tem muito a ver comigo. Eu adoraria vivenciar essa conexão com uma cultura à qual eu pertenço", disse.
Quem já conhece o delicioso ``Blue Light `til Dawn" (selo Blue Note), último álbum de Cassandra, sabe que ela não estava fazendo média. A marcante participação do percussionista brasileiro Cyro Baptista confirma.
Cassandra chega ao país no momento mais explosivo de sua carreira. Depois de gravar oito álbuns pelo selo alemão de jazz JMT, o sucesso de público veio junto com sua mudança para o influente selo Blue Note. ``Blue Light `til Dawn" liderou as paradas de jazz durante várias semanas no primeiro semestre do ano.
É justamente o repertório desse CD que Cassandra vai apresentar no Free Jazz. O mesmo show que, por sinal, continua rodando os EUA e a Europa em uma longa turnê. Além de composições próprias, ela recria blues clássicos de Robert Johnson, o folk de Joni Mitchell e Van Morrison e o ``rhythm & blues" dos Stylistics.
O tom dos arranjos é marcadamente acústico. O guitarrista Brandon Ross e o baixista Lonnie Plaxico, que também fizeram parte da gravação do disco, virão junto com Cassandra. Charles Burnham (violino e bandolim), Lance Carter (bateria) e Jeff Haynes (percussão) completam a banda.
O sucesso de Cassandra demorou a chegar. Durante uma década, ela jamais conseguiu superar a condição de cantora ``cult". Logo que começou a gravar, em meados dos anos 80, seu vozeirão grave fez a cabeça da crítica, que chegou a festejá-la como ``a Ella Fitzgerald dos anos 90".
Uma comparação que, apesar de indicar seu potencial como cantora de jazz, esconde suas influências principais: Betty ``Bebop" Carter e a ``divina" Sarah Vaughan. ``Ouvi muito Betty e Sarah. Elas certamente fazem parte do que eu sou", reconhece a discípula, assumindo também a influência inicial de cantoras folk, como Judy Collins e Joni Mitchell.
O passado musical de Cassandra prova que o ecletismo de seu repertório atual não se trata de estratégia para atingir um público maior. Desde que se associou à chamada M-Base, grupo de jazzistas experimentais do Brooklyn nova-iorquino, Cassandra sempre explorou fusões do jazz com o funk, blues, ritmos afros e latinos, além do rap e do hip-hop.
Por essas e outras, na polêmica causada pelo jazz rap, Cassandra não tem dúvida: é francamente a favor. ``Acho legal. É um jeito de expandir a linguagem musical. E também de expor as gerações mais jovens ao jazz."

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