São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1994 |
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Populismo salarial A Comissão de Trabalho da Câmara acaba de aprovar um projeto que ameaça o programa de estabilização em andamento e acena com a reedição de um mecanismo que já se provou exaustivamente perverso para os assalariados do país. É certo que a proposta agora tem de passar por outras comissões da Câmara e pelo plenário do Senado para ser aprovado –o que permite que o assunto ainda seja tratado com seriedade e bom senso. Mas não deixa de suscitar perplexidade que 20 deputados de todo o espectro político possam simplesmente colocar de lado todo realismo e agir de modo tão inconsequente. É evidente o populismo simplista que envolve um projeto de correção mensal dos salários pelo IPC-r. É fácil alardear que seja de interesse da população. Fácil e enganoso. O reajuste automático tenderia a estimular uma reindexação geral da economia, minando drasticamente as chances de um controle duradouro da inflação. E basta um mínimo de conhecimento da história recente do país para constatar que, na espiral de preços e salários, são sempre estes últimos que saem perdendo. A proteção efetiva dos assalariados é a estabilidade da moeda. O projeto inclui ainda um aumento do salário mínimo para R$ 100 até o fim do ano. Ninguém questiona, é evidente, que o seu valor atual de R$ 70 é vergonhoso e deveria ser elevado. Ocorre porém que, dadas as regras atuais, um aumento como o aprovado coloca em risco o funcionamento da Previdência, com graves consequências sociais. Tal problema, porém, que está há muito a exigir um enfrentamento sério, os membros da comissão preferiram ignorar. De todo modo, a aprovação do irrefletido projeto –que se espera será revista nas próximas etapas– serve como um alerta para a atenção e cuidado constantes que o combate à inflação exige. Se a Câmara dos Deputados pretende realmente contribuir para melhorar as condições de vida da maioria da população, muito melhor faria se ao menos começasse a debater as reformas estruturais necessárias para dar chances reais de sucesso à estabilização no país. Próximo Texto: Faltam as reformas Índice |
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