São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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PF investiga deputado em RR

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

O empresário Moisés Lipnik, 37, que mora em São Paulo e se elegeu por Roraima, está sendo procurado desesperadamente por muitos dos eleitores que o fizeram o deputado federal mais votado do Brasil.
Lipnik, colombiano naturalizado brasileiro, teve 14.349 votos –12% dos eleitores de Roraima. Proporcionalmente foi mais votado que Celso Russomanno, que obteve 233.482 votos em São Paulo (1%).
O motivo da procura por Lipnik, segundo os eleitores, é que ele agradou demais alguns, inclusive com a distribuição de terrenos e geladeiras, e deixou outros apenas com uma promessa –por escrito– na mão.
Lipnik deixou Roraima após as eleições. Muitos dos eleitores, segundo a Polícia Federal, o esperam para cobrar promessas de entrega de R$ 290,82 em material de construção.
Até a tarde de sexta-feira, 50 eleitores haviam se queixado de Lipnik à PF, alegando que deram o voto em troca de uma ``nota de entrega", um documento repassado pelo candidato que daria direito ao recebimento da mercadoria.
A Folha obteve da PF cópia de uma nota apreendida com os eleitores. A PF abriu dois inquéritos para apurar irregularidades na campanha e calcula em 2 mil o número de pessoas atingidas pelo ``golpe". Vários eleitores procuram diariamente a casa onde funcionou seu comitê para receber o prometido.
Mas não foi somente eleitores insatisfeitos que Lipnik deixou em Boa Vista. Boa parte dos seus 14.349 está feliz da vida com lotes de terras que dizem ter recebido do deputado.
``Minha irmã e meu cunhado ganharam um lote, eu peguei outro e meus pais ganharam também", diz Adauto Marques de Lima, 18. Lima votou em Lipnik. Na manhã de quarta-feira, a Folha o entrevistou no local onde estão divididos cerca de 4 mil lotes que ele teria doado aos eleitores.
Os eleitores, ao contrário do próprio Lipnik, dizem abertamente que ganharam as terras por causa das eleições.
Os lotes (em sua maioria de 10x30 metros) ficam às margens da rodovia BR-174, a 20 km do centro de Boa Vista.
``Esse homem (Lipnik) pode até se candidatar para presidente que eu voto nele", diz José Ferreira Bento, 44, um sargento aposentado que na semana passada já iniciava a construção no lote recebido.
O caso dos terrenos pode complicar a situação do deputado eleito. O procurador Franklin Rodrigues, de Roraima, o acusa de ter cometido crime eleitoral e deve pedir a cassação do seu mandato.
Lipnik foi deputado estadual em São Paulo de 1987 a 1991 e candidato derrotado ao Senado de Roraima em 1990.
Moisés Lipnik disse à Folha, por telefone, do Rio, onde se encontrava anteontem, que não distribuiu lotes de terras.
Lipnik nega também que seja o responsável pelas ``notas de entrega" em posse da Polícia Federal. As notas dariam direito ao recebimento de mercadorias em troca de votos.
Segundo o empresário, ele está sendo vítima de uma campanha dos adversários. ``Estão em estado de choque devido à minha grande votação", disse.
Lipnik afirmou que não distribuiu um só produto durante a sua campanha.

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