São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Chatô e Nelson Hungria

CARLOS HEITOR CONY

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Chatô e Nelson Hungria
RIO DE JANEIRO – Em resenha do livro ``Chatô –O Rei do Brasil", publicada no Mais!, edição de 11/09/94, fiz elogios à obra de Fernando Morais, com a óbvia ressalva: ``Pela massa de episódios, de datas, nomes e sequências históricas, é possível que haja equívocos no volumoso contexto de seu texto".
O advogado Clemente Hungria escreveu-me carta apontando inverdades no trecho em que Fernando aborda as relações de Chatô com Nelson Hungria, seu pai. Carta igual foi endereçada a ``O Globo", que a publicou integralmente, acompanhada da resposta de Fernando às observações do filho do antigo presidente do STF. Nela, o autor reitera a confiança nas fontes que pesquisou sobre o episódio.
Clemente invoca meu testemunho sobre a figura do pai. Em 1964, processado pelo ministro da Guerra, general Costa e Silva, foi difícil encontrar um advogado que me defendesse. Basta lembrar que o presidente da ABI de então, Celso Kelly, recusou-se a prestar depoimento em favor do jornalista, alegando em ofício que seria condecorado pelo ministro e não poderia comparecer em processo de tal natureza.
Desassombradamente, Nelson Hungria interrompeu sua aposentadoria e tomou a defesa do réu. Recebeu ameaças e insultos, inclusive a de estar sendo pago com o ``ouro de Moscou", quando, na realidade, trabalhou de graça, enfrentando os poderosos do dia.
Recorreu ao STF e obteve uma vitória de 8 a 1 em favor de seu constituinte, livrando-o da truculenta Lei de Segurança Nacional e colocando-o dentro da Lei de Imprensa, cujas penas eram menos severas.
Foi, de resto, a primeira manifestação do STF contra o movimento militar. Em 1968, o AI-5 expurgaria o Supremo de elementos não-confiáveis à ditadura.
Nelson Hungria não era meu amigo, até então. Não me conhecia. Lutou pela liberdade de opinião e correu os graves riscos que sua atitude provocava. Este o testemunho que, tantos anos depois, sinto-me obrigado a prestar.

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