São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994
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Problemas da bigamia

O desentendimento entre o comando pefelista e Fernando Henrique Cardoso não é bem o que está sendo divulgado por PSDB e PFL. A disputa pela presidência da Câmara é o centro da questão, sim, mas com mais implicações do que a disputa em si.
Ainda antes da eleição, mas já indiscutível a vitória de Fernando Henrique, a cúpula do PFL colhia a informação e as primeiras evidências de que o comando do PSDB desenvolvia a idéia de estimular um candidato, mesmo que de outro partido, capaz de atrair votos da ``esquerda" e assim somar apoios suficientes para conquistar a presidência da Câmara, pretendida pelo PFL.
Os pefelistas não transpareceram o alerta recebido, mas seus dois candidatos, Luís Eduardo Magalhães e Inocêncio Oliveira, aceleraram as respectivas articulações.
De repente, o PMDB reivindica a presidência, já demonstrado pela eleição que fizera a maior bancada de deputados. O comando do PFL logo constatou que a iniciativa não tinha sido peemedebista, mas proveniente dos peessedebistas mais próximos de Fernando Henrique. A Luiz Henrique, presidente do PMDB, fora oferecido o apoio do PSDB à sua candidatura, em troca do apoio peemedebista ao novo governo.
Os pefelistas verificaram, ainda, que nem ao menos se tratava de manobra por conta própria de alguns peessedebistas, mas já em sua origem tivera a participação do próprio Fernando Henrique. Puderam até identificar a procedência das notas jornalísticas que insistiam em situar Luís Eduardo Magalhães no ministério, notando que todas procediam dos mesmos próximos de Fernando Henrique envolvidos com a proposta ao PMDB.
Vista a manobra pelo outro ângulo, a cúpula fernandista traçou o seu plano a partir da convicção de que o PFL, mesmo que surpreendido pela perda da presidência da Câmara, não deixaria de integrar o bloco de apoio ao governo. Além da sua vocação oficialista, as propostas a serem apresentadas pelo novo governo, como programa de ação e como reforma constitucional, são compatíveis com as posições pefelistas. O PFL estaria condenado a apoiar o novo governo, ao passo que o PMDB tenderia a manter sua atitude de meio-governista, meio-oposição. Conquistá-lo significaria dar maioria parlamentar ao governo.
Acontece que o PFL vai para o confronto pela presidência. E vai com o sentimento de que reage a uma traição, porque PSDB e Fernando Henrique estiveram sempre advertidos de que os pefelistas e Luís Eduardo Magalhães só reivindicavam a presidência da Câmara. A dedução vigente na cúpula do PFL é a de que o PSDB pretende marginalizar os pefelistas em tudo.
Embora pouco destacado no noticiário, o desentendimento está em alto grau. A reunião marcada para discuti-lo na terça-feira, com a presença do próprio Fernando Henrique, vai abrir-se com o PSDB em posição de inferioridade. Estará forçado à criação de uma fórmula conciliatória ou, se não, a contrariar mais do que convém um dos dois partidos com os quais assumiu o mesmo compromisso.

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